sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Cálem, rótulos com afeto

A vinícola Cálem, com vinhedos em Cima Corgo e Douro Superior, centro de vinificação em São Martinho da Anta e caves em Vila Nova de Gaia, está completando 150 anos de fundação. É uma das poucas marcas criadas por portugueses que mantêm o nome de família original em seus rótulos (a Porto Cálem passou a fazer parte do grupo Sogevinus em 1998). Suas garrafas ainda trazem o desenho de uma caravela dourada, memória das antigas viagens do vinho do Porto pelo mundo. Mas houve época, principalmente na virada do século XIX para o século XX, em que a Cálem exibia rótulos especiais para conquistar mercados na América do Sul: Argentina, Uruguai e especialmente o Brasil. A pesquisadora Ana Duarte Melo, da Universidade do Minho, disponibiliza na internet um interessante estudo que mostra como essa conquista foi feita, "sem o etnocentrismo natural do conquistador", mas com vinhos nomeados "afetiva e culturalmente aos locais de consumo". O estudo de Ana Duarte organiza e analisa rótulos arquivados tanto no Instituto do Vinho do Douro e do Porto (IVDP) como na própria vinícola Cálem. "Gentil Mineira" e "Gentil Paulista" são exemplos acabados dessa política comercial. Há outros casos ilustrativos, como os rótulos do "Fraternidade", que estampam a monarquia portuguesa e a república brasileira entrelaçadas com suas respectivas bandeiras (mais tarde as garrafas abrigarão as duas repúblicas amigas também nos tragos). Mais específico ainda, o vinho "Bom Fim", com o desenho do seringal de mesmo nome no Rio Juruá, uma marca dedicada à exportação para o Pará. O grande salto de consumo brasileiro de Porto ocorre entre 1880-84, quando o país passa a importar fatia idêntica à do mercado britânico. Em 1880, o Brasil recebia 40% do total das exportações.

http://repositorium.sdum.uminho.pt/browse?type=author&value=Melo,%20Ana%20Duarte

http://www.calem.pt/

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