domingo, 13 de setembro de 2009

O canguru-cometa da Austrália

A família Casella, que imigrou da Itália para a Austrália nos anos 50, hoje é só sorrisos e já pode fazer todas as graças com sua marca globalizada. Os vinhos [Yellow Tail], que trazem no rótulo o indefectível canguru de cauda amarela, estão associados igualmente a lagostas de rabo amarelo e mesmo cometas da mesma cor, disponíveis para download no site da companhia, num arquivo espirituoso: "fun". A felicidade também tem números. Em 2001, quando desembarcaram seus cangurus nos Estados Unidos, pegando a onda do vinho australiano de 1994, os Casella venderam 250 mil caixas de [Yellow Tail]. Em 2005, alcançaram impressionantes 8,6 milhões de caixas, graças à associação com uma das gigantes da distribuição nos Estados Unidos, a W.J.Deutsch and Sons. A vinícola Casella, na pequena vila de Yenda, sudeste da Austrália, é completamente diferente de tudo que se imagina sobre uma casa de vinhos. É uma grande fábrica que engarrafa cerca de 65 mil garrafas por hora e é capaz de estocar 60 milhões de litros de vinho. A sua produção total é de 11 milhões de caixas, sendo que 8,5 milhões têm destino certo: os EUA. Não é à toa, pois, que o [Yellow Tail] é peça exemplar de um dos capítulos do livro Wine Politics - Hoow Governments, Environmentalists, Mobsters, and Critics Innfluence the Wines We Drink, de Tyler Colman (University of California Press/2008), justamente o que trata da globalização do vinho. Pois o [Yellow Tail] é o retrato dessa padronização avassaladora e inquietante. Alguns analistas se divertem com o paradoxo: dizem que o vinho do canguru deu o salto para a América justamente porque não é vinho, ou melhor, é um vinho lapidado para o paladar americano. A chave do [Yellow Tail], escreveu o wine economist Mike Veseth, foi a descoberta de que vinho com pouquíssimo tanino e baixíssima acidez poderia ser muito atrativo, "especialmente para a maioria dos americanos, que realmente não gostam de vinho." A receita é fazer um produto sempre igual, sem surpresas para o consumidor. Inicialmente nas versões Shiraz e Chardonnay, hoje há garrafas com quase todas as principais varietais. A aridez na Austrália tem crescido com consequente queda de produtividade. Mas como terroir não é preocupação, os Casella não terão dúvida: farão seu [Yellow Tail] com uvas disponíveis em qualquer região do mundo.

http://discoveryellowtail.com/#/home/

Diário do Comércio de 11 de setembro de 2009

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