sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Revolução nas Colinas de Golan

Celebrações judaicas como a Pessach já podem dispor de vinhos de qualidade produzidos em Israel, sem ferir nenhuma das leis Kosher. Os críticos têm acompanhado o recuo dos vinhos excessivamente doces – "nauseantes melados", escreveu Bill Strubbe, do Jewish Telegraphic – e a entrada em cena de vinhos varietais modernos (também Kosher), que já competem em qualidade com vinhos do Novo Mundo. Em abril de 2009, o Yarden Cabernet Sauvignon 2005, produzido pela Golan Heights Winery, levou a Grand Gold Medal na Vinitaly, em Verona. O que faz lembrar outra premiação: a medalha conquistada pela vinícola Carmel, em 1900, na Exposição Internacional de Paris – feito que sinalizou a primeira retomada da viticultura de Israel. Os vinhos no Oriente Médio têm tradição milenar. As elegantes ânforas de Canaã escavadas por arqueólogos em áreas mediterrâneas ou fisgadas em depósitos de naufrágios fenícios indicam o vigor da atividade. Em Israel, a história vem à tona por meio de centenas de lagares e instalações vinícolas escavadas na pedra. Antigamente a "fermentação era feita a céu aberto por uma semana, durante a qual poeira e sujeira se misturavam ao vinho", escreve o escritor Garrett Peck em Winemaking in Ancient Israel– interessante análise disponível na internet, com fotos de várias dessas instalações ancestrais. Garrett visitou a região em 2008. A primeira retomada da viticultura em Israel, após a ocupação árabe de 120 anos (a partir de 636), ocorreu nos anos 1880, quando o barão Edmond de Rothschild ajudou agricultores dos primeiros assentamentos com mudas francesas em Rishon Le Zion e, mais tarde, em Zichron Ya'acov, em Haifa. As propriedades foram posteriormente doadas aos colonos. A Carmel Mizrachi, atual maior produtora de vinhos do país, é uma herança dessa época. A segunda revolução demorou 100 anos para acontecer, após guerras mundiais mais a Lei Seca (lembremos que o barão de Rothschild tinha o sonho sionista de difusão do vinho kosher para os Estados Unidos e todo o mundo). Além disso, entraram em cena os rigores dos nacionalismos árabes. A Golan Heights Winery foi fundada em 1983. Em The Bible of Israeli Wines (Modan Publishing House/2002), Michael Ben-Joseph anota o esforço de kibbutznicks da região para dar nova vida ao Vale de Lágrimas, local de sangrentas batalhas durante a Guerra de Yom Kippur (1973). Foi entre carcaças de tanques e canhões que três anos depois do cessar-fogo, as primeiras mudas foram plantadas nas colinas de Golan. O primeiro Sauvignon Blanc foi lançado em 1983. Israel tem hoje 12 vinícolas de porte (que controlam 90% da produção) e mais de 150 vinícolas familiares, com vinhos de boutique. Ben-Joseph registra uma curiosidade da indústria de vinhos de Israel: usa uvas cultivadas com técnica australiana – varietais francesas em terroir israelense. Equipamentos são alemães e italianos, os enólogos foram formados principalmente nos Estados Unidos e a mão-de-obra é judaica kosher.

http://www.prohibitionhangover.com/israelwine.html

http://www.biblewalks.com/info/WinePresses.html

Diário do Comércio 21/08/2009

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