segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A inteligência da Burgundiva

Acompanhar os posts do recém-lançado blog Burgundiva.com é recomendação de Tom Wark, blogueiro-mór do Fermentation e um dos nomes mais populares do meio nos EUA. Pois Burgundiva merece a propaganda. A jovem Erica Mitchell Christie, "vintage 1983", "mis en bouteille à New York" tem mostrado fina inteligência ao tratar do vinho que a acompanha desde a infância – seu primeiro contato com a bebida foi religioso, nas missas, fascínio ampliado pelos ritos da Comunhão. Graduada em Relações Internacionais e em Francês, Erica arranjou um jeito de integrar paixões, resgatando o vinho, agora como denominador comum de viagens e estudos. Não é à toa pois que veste com estilo a roupa de burgundiva (mulher que adora a elegância da Pinot Noir e da Chardonnay da Borgonha). Mostra desde os primeiros textos sua admiração pela rentrée do vinho na Casa Branca, que funciona como um tributo a Thomas Jeffferson, o grande presidente-enólogo. Sai George W. Bush da cerveja. Entram Barack e Michele Obama, com uma adega de 1.000 garrafas. Erica se propõe a divagar sobre uma questão: qual seria o vinho que personificaria Obama e a mudança na qual muitos americanos, incluindo Erica, querem acreditar? Ela lista vários pareceres em livre associação. O vinho não teria a cor californiana local porque Obama é global. E não poderia prescindir de um pouco de “terra”, condição relacionada à imagem de superherói do presidente (mesmo em queda de popularidade), com doses evidentes de idealismo. A complexidade desse vinho com cara de Obama evocaria as características cerebrais do presidente. Com ele, "ser inteligente voltou à cena”, comemora Erica. A escolha teria de levar em conta o não convencionalismo representado por Obama na Casa Branca, originário de uma família multirracial, conectado ao mundo muçulmano. A burgundiva Erica escolheu um Côte-Rôtie, sub-região ao Norte de Côtes Du Rhône, “tipicamente vira-lata" como o presidente, no sentido da mistura. Os vinhos de Côte Rôtie levam a Syrah e a Viogner, originárias de terroirs muito diferentes entre si, que resultam em vinhos complexos como é o caráter de Obama. Erica diz que escolheu o Côtie Rôtie também por conta dos preços, já que são vinhos muito mais acessíveis a burgundivas e geeks. O Côte Rôtie, segundo Erica, pode ser uma saída honrosa para o público americano que já começa a se cansar do viscoso Shiraz australiano. Mas por que um vinho francês, menina? E a resposta é direta: "Obama é elegante, um pouco arrogante às vezes, e extremamente filosófico". Já sobre o vinho que casa com Lady Obama... é melhor acessar seu blog. Uma pista seria pensar em vinhos associados à modernidade e certa feminilidade de uma patriótica mãe americana.


http://burgundiva.com/

Diário do Comércio de 6/08/2009

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