quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A nova cara dos vinhos australianos

Muitas barricas vêm rolando na terra dos cangurus desde que o capitão Arthur Philip desembarcou, em 1788, no que é hoje o Porto de Sydney. Das primeiras tentativas de produção de vinho aos mais de 700 milhões de litros exportados anualmente para todo mundo passaram-se apenas 200 anos, rapidez e eficiência reveladoras de uma nação perseverante que se vale de muita experimentação e ciência para o manejo de seus vinhedos. A Wine Spectator de agosto, na pena do especialista Harvey Steiman, acaba de indicar um avanço dos Cabernet Sauvignon australianos no mercado americano, depois que os vinicultores conseguiram um equilíbrio na sua personalidade herbácea. Importante notícia, já que o Shiraz sempre fez sombra aos "Cab aussies". A mais nova expressão do dinamismo da vinicultura australiana, entretanto, é encontrada em jovens e estudiosos produtores de Victoria, reunidos no grupo South Pack. Fora do circuito global das grandes empresas, estão atrás de vinhos artesanais que melhor expressem o terroir daquele pedaço de Novo Mundo que tem solos de 500 milhões de anos. Vinhos que também mostrem como o australiano está tratando as novas variedades plantadas hoje no país, vinhedos que se misturam às mais antigas parreiras remanescentes do mundo, dos anos 1850. Em entrevista a Tim Wildman, publicada no blog Les Caves de Pyrène (mantido pela homônima importadora britânica), o viticultor Barney Flanders, da Allies, define o South Pack com uma antítese. O que o grupo está procurando NÃO FAZER é justamente vinhos excessivamente frutados, com a presença intensa do carvalho "adocicado", muito álcool e baixa acidez . Ele acredita que o mundo já se cansou dessa receita típica australiana, que fez muito sucesso num passado que é ainda muito presente. A produção do South Pack é, portanto, uma reação aos "pesados" vinhos dos anos 90, comparável à revolução ocorrida nos Estados Unidos com o movimento "New California", escreveu Julia van der Vink, em Punch. O South Pack foi criado em 2006 para somar as forças de promoção das garrafas de pelo menos oito vinicultores independentes, que trabalham com vinhedos principalmente no Yarra Valley, Mornington e Gippsland, ao sul da região de Victoria. São eles: Mac Forbes (Mac Forbes Wines), Timo Mayer (Mayer) Gary Mills (Jamsheed), James e Clare Lance (Punch), Barney Flandres e David Chapman (Alliens e Garagiste), Adam Forster (Syrahmi), Luke Lambert (Luke Lambert Wines), Bill Downie (William Downie). Muitos deles estão concentrados no Yarra Valley, que tem a uva Pinot como "cepa de inovação". Os Pinot de Mac Forbes foram parâmetros dessa revolução. Luke Lambert, por sua vez, além dos Shiraz, faz vinhos da italianíssima uva Nebbiolo, em Heathcote, assim como Gary Mills produz boas garrafas de Gewürztraminer e Viognier. Essas novas apostas convivem com as mais tradicionais cepas da vinicultura local, que são Shiraz, Cabernet Sauvignon (que gosta da terra roxa de Cononawarra) e Chardonnay. Depois daquela árdua viagem oceânica de oito semanas, uma das primeiras atitudes do capitão Philip (logo guindado a almirante e que seria o governador da colônia britânica New South Wales), foi plantar, com a força dos seus "condenados" o que restava das mudas que trazia na embarcação. Entre as plantas, vinhas do Cabo da Boa Esperança e do Brasil. Pois se a Grã-Bretanha não tem exatamente uma história das mais vibrantes da indústria do vinho, sempre foi um grande reino de consumidores e, no século XVIII, já era um porto de muitos negociantes da bebida. Havia uma ideia, sobrejacente à da conquista territorial, de que a Austrália poderia ser o "vinhedo da Inglaterra", explica Max Allen em Crush (Mitchell Beazley/2000). Como aquele ponto da Austrália era muito quente e úmido, as tentativas de produzir vinho ali fracassaram. O primeiro vinhedo produtivo e a primeira vinícola comercial vieram décadas depois, já no início do século XIX. Até os anos 1960, aproximadamente 80% dos vinhos australianos eram fortificados, na linha do Sherry e do Porto. Eram conhecidos na Inglaterra como "vinho colonial". Foi depois da Segunda Guerra que o perfil dos vinhos locais foi sendo alterado, graças aos imigrantes italianos, gregos e alemães, que gostavam dos vinhos à mesa, para acompanhar as refeições. O primeiro grande vinho australiano saiu das mãos de Max Schubert, da vinícola Penfold, em 1951: o safrado "Grange". Depois dele, a vinicultura australiana nunca mais foi a mesma. TERREMOTO - O espírito de um movimento social que os americanos conhecem bem (neighbors helping neighbors) tomou conta de produtores de vinho reunidos no Napa Valley Vintners, que anunciou a doação de US$ 10 milhões para a criação de um fundo destinado às vítimas do terremoto que atingiu a Califórnia, incluindo vinhedos de Napa, em 24 de agosto. O dinheiro vai para reconstrução de moradias e negócios.BRASILEIROS - O Novo Guia Adega de Vinhos do Brasil (2014-2015) acaba de ser lançado pela Editora Inner em parceria com a revista Adega. Foram avaliados cerca de 580 vinhos, de mais de 60 vinícolas de todo País. A publicação oferece ainda um resumo das principais regiões vitivinícolas e um ranking de rótulos de maior destaque. http://lojainner.com.br/guiaadegavinhosdobrasil2013-2015.html DC de 5 de setembro de 2014

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