segunda-feira, 14 de julho de 2014

Desafio Bobal

O blogueiro Rob Tebeau, do Fringe Wine, que garimpa vinhos de uvas pouco conhecidas (ou de cepas conhecidas plantadas em regiões não usuais, ou ainda vinificados fora do padrão), lançou certa vez um desafio a seus leitores. A questão era aparentemente simples: quais as três uvas mais plantadas na Espanha? Considerando-se o perfil do blog, entretanto, sabíamos de antemão que haveria surpresas. Mesmo para quem não acompanha de perto a evolução desse mundo de hectares e vinhedos, o voto na Tempranillo teria fácil justificativa. É talvez uma das castas mais visíveis e presentes entre os vinhos globalizados espanhóis à venda no Brasil. Mas a Espanha não é feita só de Tempranillo, costumam alertar, com razão, os vinicultores espanhóis diante das 600 variedades cultivadas no país. A Tempranillo está na segunda posição em área plantada na Espanha, com cerca de 214 mil hectares. Os vinhedos da uva branca Airén, entretanto, são os mais extensos, alcançando 300 mil hectares – e não são somente os maiores da Espanha, mas do mundo inteiro. Em terceiro no ranking estaria a variedade Garnacha ou a Monastrell, também mais propagadas pelo mercado? Não, o terceiro maior vinhedo espanhol – e aí a surpresa reservada por Tebeau – é formado pela esquecida uva Bobal, com 40 mil hectares plantados somente na região de Utiel-Requeña, província de Valência. Presente há mais de 2 mil anos na tradição vinícola local,somente nos últimos cinco anos a Bobalpassou a constar na lista e nas taças dos “winegeeks”, tão aficionados pelas novidades dos vinhos como os conhecidos geeks são vidrados nos gadgets. No Brasil, por exemplo, dois rótulos da variedade andam circulando pelas prateleiras virtuais: Dominio de La Vega Bobal 2010 (importado pela Viníssimo, com promoções no site Sonoma) e Pasión de Bobal 2009, das Bodegas Sierra Norte (à venda no site da Via Vini). A província autônoma de Valência, no Sudeste da Espanha, produz grande variedade de vinhos em três de suas D.O. (Denominación de Origen): D.O. Valência, D.O. Alicante e D.O. Utiel-Requeña. É em Utiel-Requeña que “produtores mais diligentes celebram suas raízes através de vinhos feitos com sua uva nativa Bobal”, escreve John Perry no site Catavino. Sete vinícolas da região, por exemplo, estão agrupadas na Associação Primum Boval, para promover a ideia de um vinho varietal de qualidade. O primeiro rótulo do Primum foi lançado em 2012. A região Utiel-Requeña tem 115 vinícolas já engarrafando vinhos 100% Bobal. Graças à boa acidez, a Bobal é usada também em vinhos rosados e espumantes. Cerca de 7.100 famílias tocam suas vinícolas na região, o que mostra o papel do vinho na economia valenciana. Antes da aposta na qualidade, o vinho da Bobal era tão somente vendido para compor com outros tintos. Silvia Franco, do site In VinoVeritas, destaca a suavidade da casta. Encontrou no Domínio de La Vega Bobal 2010 um vinho excepcionalmente rubi, frutado (cerejas e frutas negras), com notas de especiaria e carvalho: “uma carícia na boca de tão sedoso”. A uva Bobal é hoje responsável por cerca de 80% da produçãode vinhos em Utiel-Requeña, região que engloba os municípios de Caudete, Camporrobles, Fuenterrobles, Requeña, Siete Aguas, SinarcasUtiel, Venta del Moro e Villagordo Cabariel. Os vinhedos estão num grande plateau circular, de 45 quilômetros de diâmetro, com altitudes de 600 a 900 metros acima do nível do mar, a cerca de 70 quilômetros do Mediterrâneo. Aí os vinhedos de Bobal crescem com gosto, em condições extremas: invernos rigorosos e prolongados, verões quentes e secos, mais os ventos quentes e secos soprados do mar. DEZ TINTOS - Aqui uma relação de 10 vinhos tintos top da D.O. Utiel-Requeña: Bassus Premium (Hispano-Suizas); Primum (7 bodegas); Generación 1 (Vicente Gandía); Artemayor (Dominio de la Vega); Carlota Suria (Pago de Tharsys); Bobos (Hispano-Suizas); Cerro Bercial Reserva (Sierra Norte); Vegalfaro Crianza (Vegalfaro); Lagar de Lar (Finca Ardal) e Helix (Aranléon). www.abc.es/viajar/restaurantes/20140322/abci-mejores-vinos-requena-utiel-201403211217.html CARTA DE AROMAS - Eis uma carta com uma lista de palavras relacionadas aos aromas dos vinhos, para levar na carteira. "As palavras não têm um significado em si próprias. São simples instrumentos para descrever experiências, contar histórias e construir memórias", justifica o editor Alder Yarrow, do premiado site Vinography. Há versões em inglês, francês, alemão, espanhol, italiano, japonês e também português. www.vinography.com/archives/2009/03/vinography_aroma_card_now_avai_2.html Diário do Comércio de 11/7/2014

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