segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ensinando grego

A falta de informação precisa e aprofundada sobre vinhos gregos fez com que Markus Stolz iniciasse uma cruzada para promovê-los na sua Alemanha de origem e também na Inglaterra, onde trabalhou e aprendeu a gostar de vinhos. Um empreendimento que acabou alcançando, via internet, todo o mundo. Ex-executivo de bancos em Frankfurt e Londres, casado com a maratonista grega Alexandra, com quem tem quatro lindos filhos, Stolz trabalha desde 2009 inteiramente dedicado aos vinhos de qualidade produzidos na Grécia. E faz festa com um bom Xinomavro de Naoussa em sua taça. Seu endereço atual é Atenas, numa casa com adega encorpada com 1.600 garrafas, adquiridas em leilões londrinos e em viagens pela França e Itália. Como conhece vinhos das melhores regiões vinícolas do planeta, incluindo a Rheingau do Riesling, e tem formação avançada na Wine & Spirit Education Trust, Stolz tem condições de bem compará-los aos vinhos de sua terra de adoção. É hoje um pesquisador respeitado da vinicultura da Grécia e, mais do que isso, importante elo entre importadores, produtores gregos, críticos e jornalistas internacionais. Seu inteligente site Elloinos(www.elloinos.com) nasceu primeiro, diante de um vazio de informações inéditas e atualizadas. Afinal, pouca gente está familiarizada com os vinhos gregos, a não ser talvez aqueles sem rótulos celebrados na literatura ou na mitologia: os vinhos homéricos "escritos" na Ilíada e Odisseia. Ou os transportados em vasos decorados com a façanhas do deus Dionísio. Os turistas conhecem os vinhos de jarra das tavernas e a retsina, sempre apresentados sob os signos da rusticidade e de um exotismo ancestral. No Brasil, graças ao trabalho de prospecção de algumas importadoras, o vinho grego não é mais tão grego assim, em que pese o número ainda restrito de vinícolas no cardápio. A Mistral, por exemplo, trabalha com as casas Antonópoulos, Gaía e Gerovassilíou, enquanto a Vinci traz rótulos da Cambas e Boutari. A Via Vini oferece no seu site um rótulo da Tinos. Para o arcabouço do site Elloinos, Stolz foi a campo, visitando plantações e pequenas vinícolas do continente grego e de suas inúmeras ilhas. Na Kokkalis, em Skafidia, Mar Iônico, chegou a trabalhar na colheita e ralou as mãos no plantio de 1.500 mudas. O mergulho incluiu ainda muita conversa, mezedes e taças cheias divididas com produtores. No início, ele conta, o chamavam de "o alemão louco", que queria, vejam só, vender os vinhos gregos para fora do país. Depois, adquiriu a confiança necessária para a série de entrevistas publicadas no site e para a organização de degustações, na Grécia e no exterior, de vinhos escolhidos a dedo. No início do ano apresentou vinhos nos EUA e Panamá. O Elloinos é um site de referência que transborda em cultura clássica. Mas as discussões podem girar também em torno de questões mais prosaicas, como a escolha do melhor vinho para acompanhar a koulourakia, festivo bolinho amanteigado da Páscoa. Oferece ainda uma "biblioteca" com informações detalhadas sobre as uvas gregas, de nomes tão complicados quanto de seus produtores. Da mais incensada Assyrtiko, dos vinhos brancos de Santorini, à Koniaros, plantada em Serres, na Macedônia, na fronteira com a Bulgária. A Koniaros só é explorada por Nerantzi Mitropoulos, que redescobriu os vinhedos, fez os devidos testes de DNA e lançou-se à especial produção de vinhos da cepa. As uvas brancas gregas (Assyrtiko,Malagousia, Moschofilero, Robola, Roditis, Savatiano) são as autóctones mais plantadas e conhecidas. Já as tintas (Agiorgitiko, Ximonavro, Avgoustiatis, Negra Kalavryta, Koniaros, Liatiko, Limniona, Mavrotragano, Mouchtaros, Vertzami e Vlahiko) precisam ser mais difundidas. Uma das uvas "fichadas" por Stolz é a rara Avgoustiatis, que nasce à oeste do Peloponeso (principalmente Pyrgos), na Ilha de Zakynthos e em pequenos vinhedos nas ilhas de Corfu, Tinos e Samos. Já a Preknadi é uma cepa de histórias, que cresce na Grécia Central e norte do país. Há seis décadas passou a ser cultivada extensivamente em Naoussa, até que em 1960 foi dizimada pela Phylloxera. Os viticultores tratam agora de resgatá-la com sucesso. Num divertido filmete de 90 segundos postado no Elloinos, os filhos de Markus Stolz prestam uma emocionante homenagem à viticultura grega, ensinando, em grego castiço, as difíceis pronúncias de 10 uvas autóctones. Eu não perderia essa aula de simpatia. Diário do Comércio de 24/05/2013

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