sexta-feira, 12 de abril de 2013

As garrafas e as mulheres de Antinori

Frank J. Prial (1930-2012), o primeiro crítico de vinhos do New York Times, o primeiro também a dar valor tanto aos sabores quantos às histórias dos vinhos, perguntou certa vez porque historiadores e romancistas americanos quase deixavam de lado italianos e preferiam pompas de ingleses e franceses. E atirava: “muitos dos antigos clãs na Inglaterra e na França são apenas de parvenus (no sentido de novos-ricos) comparados aos Frescobaldis, Antinoris e Ricasolis, que bebiam na companhia de gente como Dante e os Medici, e que estão lá desde o nascimento da Renascença. ” Completava dizendo que a tarefa seria fácil se esses escritores olhassem para Chianti e toda a tradição vinícola da Toscana. Os Antinori estão no negócio dos vinhos há 26 gerações, desde que em 1385 Giovani de Pierso Antinori aderiu à guilda dos produtores da região (l’Arte dei Vinattieri). O palazzo renascentista adquirido pela família em 1506, no centro de Florença, é até hoje ume espécie de quartel-general dos Antinori. Mas o atual grau de expansão dos negócios – há vinícolas do grupo tanto na Califórnia quanto na Romênia – se deve mesmo ao olhar exigente e elegante do atual pater familias, Piero Antinori. Desde 1966, época de decadência na região do Chianti, Piero não só tratou de resgatar e replantar seus vinhedos como passou a ser o elo aglutinador das mudanças do vinho do seu país. Desde sempre foi uma espécie de embaixador dos vinhos italianos de qualidade por todo o mundo. E não só informalmente, já que comanda o Istituto del Vino Italiano di Qualità – Grandi Marchi. Prial ainda pôde ver, entretanto, uma mudança e o reconhecimento ao esforço do florentino Piero, hoje uma unanimidade no mundo do vinho e figura onipresente nas revistas especializadas, mesmo se agora um pouco ofuscado pelo brilho de suas três fillhas Albiera, Allegra e Alessia, cada uma um ramo da grande videira. Premiado pela revista Wine Spectator pelos serviços prestados ao setor, Piero Antinori foi escolhido em 2011 homem do ano da inglesa Decanter. Se já causou uma revolução ao lançar o seu rótulo Tignanello, em 1971, um blend da local Sangiovese e Cabernet Sauvignon, foi aclamado décadas depois pelo tinto Solaia, vinho do ano de 2000 da mesma Wine Spectator. Os vinhos italianos ícones da Marchesi Antinori, com 1.764 hectares de vinhedos na Toscana, Umbria, Piemonte e na Puglia e cerca de 20 milhões de garrafas produzidas por ano, são os já citados Tignanello e Solaia, ambos vinificados na Tenuta Tignanello, em Chianti (o terroir da Toscana abraçada ao fazer de Bordeaux) o Guado al Tasso, da propriedade em Bolgheri, e o Cevaro della Sal a, o grande vinho branco da casa (Chardonnay e um pouco da local Grechetto), produzido num castelo medieval, na zona de Orvieto, na Umbria. Albiera Antinori, vice-presidente da Marchesi Antinori, acaba de apresentar na Vinitaly, realizada no início deste mês de abril, em Verona, vinhos da mais nova adega de Bargino, na comarca de San Casciano Val di Pesa, a nova menina dos olhos da família. Em O Perfume do Chianti (Rocco/2011), Piero conta a história dos bastidores da família, fazendo loa às "suas meninas". A executiva Albiera, que faz o marketing da casa e vive agora em viagens pela Ásia. Allegra, "cultora da boa cozinha e alma das nossas relações públicas". E Alessia, que é a enóloga envolvida com o espumante Montesina, que trás no rótulo três "as" entrelaçados das iniciais das irmãs (como são na vida real). Um vinho feito no coração da Franciacorta, ao sul do lago de Iseo, já que, como diz Antinori, "uma firma que quer crescer e perdurar no tempo precisa sempre enveredar por novos caminhos e superar velhas fronteiras".

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