quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O Sangue de Touro de Liszt

Não é de hoje que se atribuem aos vinhos poderes sobre o gênio dos artistas. Sobre o compositor e pianista húngaro Ferenc (Franz) Liszt (1811-1886), conta a lenda que compôs as melodias da Rapsódia Húngara nº 8 sob inspiração movida pelo vinho Bikáver (Sangue de Touro), feito em Szekszárd. Era 1846 e o músico que tinha endereços tão diversos entre Viena, Paris, Roma e Weimar, estava então hospedado na propriedade do barão Antal Augusz, em Szekszárd, província de Tona, ao longo do Danúbio. O barão tinha vinhedos nos arredores da cidade e serviu a Liszt o tinto que lhe valeu a dedicatória da Rapsódia. O próprio compositor, numa das viagens à Roma levou umas garrafas do "néctar sexardique" de presente para o papa Pio IX, que elogiava o vinho bom para seu "ânimo e saúde". A história é contada por József Kosárka, embaixador da Hungria no México, no site Vinesfera.com. Kosárka lembra ainda um episódio histórico ligado ao Sangue de Touro. Durante o cerco dos turcos à fortaleza de Eger, em 1552 (veja reprodução abaixo), o capitão húngaro decidiu alimentar seus soldados com o vinho tinto das bodegas subterrâneas. E este teria garantido ímpeto descomunal ao batalhão. Os próprios vencidos teriam degustado posteriormente a bebida, para eles religiosamente proibida, alegando que o vinho tão grosso e vermelho era realmente sangue do animal. Atualmente, o Bikáver só pode ser produzido nas regiões de Eger e Szekszárd. Nesta última, leva 40% de uvas Kékfrankos e Kadarka. Já os Bikáver de Eger têm regras ainda mais definidas, divididos estão por lei em três qualidades distintas (Clássico, Superior e Grão-superior). O Bikáver Clássico de Eger tem a Kékfrankos como estrela. Em 2011, o vinho oficial do bicentenário de Liszt foi um Kadarka 2008 de Szekszárd, da vinícola Heimann, que trouxe a imagem do compositor no seu rótulo. A uva Kadarka, essencial no blend do Sangue de Touro, chegou às terras húngaras no século XVI pelas mãos de povos balcânicos que fugiam dos otomanos, explica Kosárka. Os Sangue de Touro sempre foram ideais para acompanhar os guisados de cordeiro, temperados e coloridos com muita páprica. O poeta Pablo Neruda, que no início dos anos 70 visitou a Hungria na companhia do escritor guatelmateco Miguel Angel Asturias, chegou a escrever uma verdadeira ode aos pratos do país, ao doce Tokay e ao tinto Bikáver, o "touro com coração de veludo". DC de 21/09/2012

Nenhum comentário: