segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Hemingway era uma festa

Foi em pleno mar do Caribe, a bordo do barco El Pilar, sintonizando informações meteorológicas, que o escritor Ernest Hemingway (1899-1961) ficou sabendo que ganhara o Prêmio Pulitzer com o livro O Velho e o Mar, publicado um ano antes, em 1952. Fugindo do costume, teve de comemorar a notícia a seco. Mary Hemingway conta em How it Was, livro sobre a vida com o escritor em Cuba, que os dois tiveram que se contentar em abrir uma lata de sopa de rabada e se virar com um pedaço de queijo. Os champagnes preferidos, Perrier-Jouet e Lanson Brut, tiveram de ficar para o desembarque. A sede de Hemingway nunca foi segredo. Entre os anos 1921 e 1928, repórter e escritor numa Paris que era uma festa, dividia mesas fartas e bebidas com grandes artistas e escritores. Ezra Pound, Gertrude Stein, James Joyce, Miró e Picasso eram alguns deles – a famosa Geração Perdida. O tenente Henry, personagem de A Farewell to Arms (Adeus às Armas), de 1929, encarnava o espírito de Hemingway: “Não fui feito para pensar. Fui feito para comer.” No mesmo livro, spaghetti ao alho e óleo regado com garrafas de Barbera compunha a cena para a seguinte fala: “Comida pode não ganhar a guerra, mas não perde nenhuma.” As citações enogastronômicas nas obras de Hemingway foram reunidas em Dining with Hemingway (William P. Moore/Lulu.com/2008). Para uma bela galinha flambada no próprio molho, com Armagnac, manteiga e mostarda, Hemingway relacionou na revista Esquire, em 1935, seis possibilidades de harmonização: vinhos de Capri, St. Estephe, Corton, Pommard, Beaune ou Chambertin. Numa célebre fotografia,o Nobel de Literatura de 1954 aparece com um de seus gatos – chegou a ter dezenas deles em seu refúgio cubano. À sua frente, um indefectível de Chianti na tradicionalíssima garrafa com palha. Moore relata que Hemingway apreciava também os vinhos Valpolicella, um branco seco chamado Vesuvius e não dispensava uma grappa. O escritor, na verdade, sempre esteve mais associado aos cocktails. Era o grande embaixador da Bodeguita del Medio, em Havana, onde ciceroneou personalidades como Brigitte Bardot, Nat King Cole, Jimmy Durante, Errol Flynn. Todos inebriados com a mistura de seu célebre Mojito.

DC de 6/08/2010

Nenhum comentário: