quarta-feira, 1 de julho de 2015

Caça aos bonés e vinhos do Ródano

Em arrumação de livros na estante, saltou-me à mão Tartarin de Tarascon, que, ao lado de Cartas do Meu Moinho, é das obras mais populares de Alphonse Daudet (1840-1897). Daudet, escritor naturalista amigo de Zola e Gouncourt, retratou como ninguém os costumes dos franceses do sul, bom-humor e ironia brilhantes. Mas, já na epígrafe da primeira história, sabe-se que seus personagens vão desafiar qualquer fronteira, em nome do espírito de seu tempo: “Na França, toda a gente é um pouco de Tarascon”. Pois assim, Tartarin, nas manhãs dos domingos ensolarados, aprumava-se para a caça, uma paixão dos tarasconeses. Mas o fato é que não havia mais caça em torno de Tarascon. (...) os campos desabilitados, os ninhos abandonados. Nenhum melro, nem uma codorniz, nem o menor láparo, nem a mais diminuta narceja. Até os bandos de patos selvagens em arribação desviavam-se de Tarascon. Havia por lá apenas um coelho matreiro, o “Rápido”, que nenhum caçador, nem o afamado Tartarin conseguia por na mira. O que faziam então esses caçadores nessas manhãs de domingo e de caça? “Oh!, meu Deus! Vão para o campo aberto, a duas ou três léguas da cidade, e se estendem pacificamente à sombra de um poço, de um velho muro, de uma oliveira, tiram da bolsa de caça um bom pedaço de carne, recheada, cebolas cruas, um salsichão, algumas anchovas, e iniciam um almoço interminável, regado por um desses belos vinhos do Ródano que fazem rir e fazem cantar.” Depois, quando estão bem “lastreados”, partem para a caça dos próprios bonés, atirados em festa para o alto. As ilustrações dessa minha edição são do genial impressionista alemão George Grosz. Uma delas mostra justamente a farra dos caçadores nas colinazinhas atraentes e perfumadas de alfazema de Tarascon.

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