sexta-feira, 16 de maio de 2014

Buquê de "cem flores"

Na falta de um Romanée-Conti ou um La Tâche, a aprendiz de sommelière Miyabi Shinohara, funcionária de um elegante restaurante em Tóquio, abre uma garrafa de Richebourg, safra 99, também produzido no famoso Domaine de La Romanée-Conti, na Borgonha. À espera na mesa, um milionário da indústria de saquê aguarda com ansiedade a alternativa proposta por MIyabi. O consumo de vinhos franceses explodiu no Japão e hoje em dia é mais que moda. Ao prová-lo, o magnata reage e range os dentes: nunca tinha experimentado um vinho tão amargo e áspero como o oferecido. Miyabi tem certeza que o vinho não está bouchonné (palavra francesa para o vinho cheirando à rolha, oxidado). O que teria acontecido com uma garrafa tão bem aguardada? Um misterioso cliente da mesa ao lado, um verdadeiro anjo da guarda, ajuda Miyabi a sair da enrascada: pega a garrafa do Richebourg e transfere magistralmente todo seu conteúdo para um outro recipiente de vidro, um decanter. O líquido sai da garrafa em uma precisa linha vertical, "como uma delgada fita de seda vermelha", e arranca óhs! do salão! A mágica está feita. O vinho volta a ser servido e agora o homem de negócios encontra na sua taça um Richebourg estonteante, aromático, sem arestas, como os bons Romanée-Conti que costuma degustar. Os olhos giram de prazer já nos primeiros goles. E a aprendiz de sommelière entende didaticamente a lição. Decantar um vinho jovem como o tal Richebourg é despertar sua valorizada combinação aromática de "cem flores". Não à toa, esse teatral episódio da decantação abre a série Drops of God, o mangá japonês que é coqueluche em todo mundo e ajudou principalmente os asiáticos na descoberta dos mistérios dos vinhos. A decantação é aconselhada pelos especialistas em duas ocasiões. A primeira: pode realmente amaciar vinhos jovens com taninos ainda agressivos. Um Cabernet Sauvignon que, logo ao ser aberto, apresente alta adstringência, pode ficar menos amargo e ganhar em aromas com a decantação. O contato com uma área maior de ar faz com que o vinho "respire" e se abra. O autor Mark Oldman recomenda, entretanto, extremo cuidado na decantação dos delicados e perfumados borgonhas, já que extremadas aerações podem "levá-los à beira da morte", tirando-lhes as procuradas e sutis nuances. A decantação mais conhecida é aquela feita para remover sedimentos de vinhos tintos de guarda, de dez anos ou mais. Quem já não viu essas partículas em vinhos do Porto vintage? E a técnica "de limpeza" nesses casos é manter a garrafa em pé até que a borra fique depositada no fundo. O vinho depois é transferido cuidadosamente para um decanter. Uma fonte de luz atrás da garrafa (a tradição fala em vela) pode ajudar o anfitrião/sommelier a perceber com mais nitidez a chegada das partículas sólidas ao gargalo e interromper o processo de transferência nesse ponto. "Nada no mundo do vinho permite ao esnobe mais exibicionismo do que a decantação", escreveu Leonard S. Bernstein no seu divertido The Official Guide to Wine Snnobery (Barricade/2003). E a diversidade de decanters, na forma de elegantes patos ou de tubos de laboratório de ciência, fazem parte desse cenário. Bernstein, entretanto, vai aoponto: "decante somente o vinho que precisa ser decantado!" Outra dica: mesmo sem decantação, dê tempo para que o vinho evolua na taça. Para Georg Riedel, da prestigiada casa de cristais, decantar "é um sinal de respeito para com vinhos maduros e um sinal de confiança nos vinhos jovens. MAIS PORTUGAL - Para facilitar a comercialização de seus vinhos portugueses no Brasil, o empresário André Manz criou a Lusitanus Brands, com sede em Caraguatatuba, Litoral Norte de São Paulo. Além do rótulo Dona Fátima, 100% da rara branca Jampal, a vinícola de Manz ainda produz na mesma bucólica Cheleiros os vinhos Pomar do Espírito Santo (Touriga Nacional, Aragonês e Castelão), Platónico (Aragonês, Castelão e Touriga Nacional) Manz Rosé (Castelão), este vinificado exclusivamente para venda no Brasil. De vinhedos do Douro sai o Manz Douro (Touriga Nacional e Tinta Roriz) e, da Península de Setúbal, o Contador de Estórias (Syrah, Touriga Nacional e Petit Verdot). Diferentemente do que publicamos aqui em edição anterior, André Manz está há 26 anos em Portugal e há 9 na vila de Cheleiros, perto de Mafra. Foi para lá como jogador de futebol, tornou-se empresário de sucesso e agora faz gols com vinhos de qualidade. www.lusitanbusbrands.com.br www.manzwine.com DC de 15/05/2014

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