sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Aventura em vinhedos da América

O empresário Cristián Muñoz iniciou sua carreira ligada aos vinhos como exportador. Pouco mais tarde, já montado numa motocicleta, fez uma campanha para promover os vinhos chilenos empunhando a bandeira da cepa nacional, a Carmenère. Desde 1° de setembro, está na estrada para outra empreitada, desta vez para filmar um documentário que já tem título: Wine Terroir Adventure. No roteiro, nada menos do que visitas a 25 terroirs da América Latina e 40 mil quilômetros de estradas. O espírito da aventura de Muñoz lembra a do projeto Vinos Sin Fronteras: La Volta del Mundo en 80 Viñedos (aqui uma brincadeira com Júlio Verne), encabeçado por Nicolas Beausset, negociante de vinhos na Espanha, e Géraldine Reinhold Von Essen, executiva de uma operadora de turismo francesa. Eles passsaram o ano de 2007 como globetrotters. Visitaram 80 vinhedos em 15 países e desvendaram, em blog, segredos de regiões vinícolas pouco conhecidas como a asiática e seus "vinhos de nova latitude". Muñoz começou a viagem no Palácio de La Moneda, no Chile, onde visitou as adegas Alta Alcurnia (Peralillo), Gandolini (Maipo), Ventorela (Leyda) e Von Siebbenthal (Aconcágua). Atravessando os Andes, chegou a Mendoza e cruzou Buenos Aires, na Argentina. As potentes motocicleta e câmera de Muñoz poderão ser vistas até no Rio de Janeiro, em encontro com importadores. O viajante filmará ainda em vinhedos nos Estados Unidos. www.andeswines.com DC de 28/09/2012

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O Sangue de Touro de Liszt

Não é de hoje que se atribuem aos vinhos poderes sobre o gênio dos artistas. Sobre o compositor e pianista húngaro Ferenc (Franz) Liszt (1811-1886), conta a lenda que compôs as melodias da Rapsódia Húngara nº 8 sob inspiração movida pelo vinho Bikáver (Sangue de Touro), feito em Szekszárd. Era 1846 e o músico que tinha endereços tão diversos entre Viena, Paris, Roma e Weimar, estava então hospedado na propriedade do barão Antal Augusz, em Szekszárd, província de Tona, ao longo do Danúbio. O barão tinha vinhedos nos arredores da cidade e serviu a Liszt o tinto que lhe valeu a dedicatória da Rapsódia. O próprio compositor, numa das viagens à Roma levou umas garrafas do "néctar sexardique" de presente para o papa Pio IX, que elogiava o vinho bom para seu "ânimo e saúde". A história é contada por József Kosárka, embaixador da Hungria no México, no site Vinesfera.com. Kosárka lembra ainda um episódio histórico ligado ao Sangue de Touro. Durante o cerco dos turcos à fortaleza de Eger, em 1552 (veja reprodução abaixo), o capitão húngaro decidiu alimentar seus soldados com o vinho tinto das bodegas subterrâneas. E este teria garantido ímpeto descomunal ao batalhão. Os próprios vencidos teriam degustado posteriormente a bebida, para eles religiosamente proibida, alegando que o vinho tão grosso e vermelho era realmente sangue do animal. Atualmente, o Bikáver só pode ser produzido nas regiões de Eger e Szekszárd. Nesta última, leva 40% de uvas Kékfrankos e Kadarka. Já os Bikáver de Eger têm regras ainda mais definidas, divididos estão por lei em três qualidades distintas (Clássico, Superior e Grão-superior). O Bikáver Clássico de Eger tem a Kékfrankos como estrela. Em 2011, o vinho oficial do bicentenário de Liszt foi um Kadarka 2008 de Szekszárd, da vinícola Heimann, que trouxe a imagem do compositor no seu rótulo. A uva Kadarka, essencial no blend do Sangue de Touro, chegou às terras húngaras no século XVI pelas mãos de povos balcânicos que fugiam dos otomanos, explica Kosárka. Os Sangue de Touro sempre foram ideais para acompanhar os guisados de cordeiro, temperados e coloridos com muita páprica. O poeta Pablo Neruda, que no início dos anos 70 visitou a Hungria na companhia do escritor guatelmateco Miguel Angel Asturias, chegou a escrever uma verdadeira ode aos pratos do país, ao doce Tokay e ao tinto Bikáver, o "touro com coração de veludo". DC de 21/09/2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A ciência das borbulhas

Físico e fotógrafo, Gérad Liger-Belair é autor de um livro sobre... o Champagne. Uncorked, The Science of Champagne, editado pela Universidade de Princeton, traz seus estudos sobre as borbulhas que aumentam o prazer de quem degusta essa bebida de charme, assim vinificada desde 1668. Este o ano no qual o beneditino Dom Pérignon, da Abadia de Hautvillers, no Vale do Marne, a 150 quilômetros de Paris, começou a lutar contra e a favor das bolhas do champagne até conseguir um método eficiente de vinificação. Quando estudante de Física em Paris, Gérad já tinha atração pela área da dinâmica dos fluidos. Ele conta que, na época em que terminava a graduação, não conseguia tirar os olhos da caneca de cerveja e da dança de suas bolhas douradas. Logo comprou macrolentes e passou a fotografar o comportamento de bebidas gasosas. Ao final, vislumbrou um futuro para sua carreira: resolveu postar as imagens para o Departamento de Pesquisa da Moët & Chandon, com uma proposta irrecusável de pesquisa: toda casa de Champagne teria de conhecer a fundo, cientificamente, os processos físico-químicos dessas borbulhas que têm peso (ou leveza) fundamental na imaginação de quem saboreia esse tipo de vinho. Foi convidado a Epernay, a capital dos vinhos da Champagne, e logo mudou-se de Paris para o Laboratório de Ecologia da Universidade de Reims, onde escreveu sua dissertação de mestrado, base desse seu livro. Nele, Gérard conta como as bolhas enfileiradas na taça chegam ao ápice em seguidas explosões de gotículas invisíveis a olho nu. O autor é hoje professor associado de Ciências Físicas da Universidade de Reims, na região vinícola de Champagne. DC de 14/9/2012