segunda-feira, 27 de abril de 2009

AVA com alma AOC

Uma tirada de Charles de Gaulle (1890-1970), defensor que era, nos campos de batalha, da concentração de forças, sempre é lembrada quando o tema são as classificações regionais, tão ao gosto dos franceses. "Como alguém pode governar um país com 246 queijos?" Contado o orgulho e cada pé de serra, o número de queijos seria muitíssimo maior, do tamanho da montanha de produtores. A União Européia entrou em campo em 1992 e instituiu, para funcionar ao lado da tradicional AOC (Appellation d'Origine Contrôlée), um selo algo mais restritivo, o PDO (Protected Designation of Origin). Atende com atraso aos reclamos do general ou cria nova escalada de especificidades? O professor Michael Veseth , da Universidade de Puget Sound (Washington), usou a frase de De Gaulle como epígrafe de um texto sobre a enxurrada de AVAs (American Viticultural Area) que recorta as regiões vinícolas dos Estados Unidos além das fronteiras políticas – regulação só aparentemente inspirada nas AOC francesas. Apellattions que primeiro garantiram sobrevivência aos vignerons, depois qualidade aos vinhos até a promoção das regiões vinícolas da França, a começar de Champagne. "How Many AVAs are Enough?" (Quantas AVAs são suficientes?) é a pergunta-título de um artigo publicado por Veseth no site da American Association of Wine Economists. Já são cerca de 200 áreas nos EUA, a mais recente ganhou os contornos de Snipe's Mountain (Washington). Segundo Veseth, essas designações mais complicam que esclarecem o consumidor sobre a procedência do vinho, acostumados estavam com os rótulos varietais impressos por cada estado. Zinfandel da Califórnia ainda é um orgulhoso rótulo para o vinho produzido com uvas de Sonoma, Mendocino e Lodi. Essas três regiões AVAs específicas têm rótulo próprio somente quando produzem vinhos com 85% de uvas locais. Diante de uma Califórnia retalhada por AVAs ligadas muito mais ao território que ao fazer, resta entretanto uma experiência muito especial em Mendocino, onde produtores têm se esmerado na criação de vinhos AVA com alma AOC. Ou seja, acreditam na delimitação geográfica, mas adotaram critérios rígidos de produção, com cepas escolhidas a dedo. Vale a pena conhecer a sanha dessa organização de vinicultores, o Coro Mendocino, vozes diferentes na Califórnia.

http://www.sipmendocino.com/wineries/coro_mendocino.asp

http://wine-econ.org/2009/02/27/how-many-avas-are-enough.aspx

Diário do Comércio/24/04/2009

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um jantar no Hôtel Langeac

Thomas Jefferson e Benjamin Franklin convidaram Jack Osborne, professor de história americana do século XVIII, para jantar em Paris. Um encontro realizado no Hôtel de Langeac, residência de Jefferson durante sua temporada francesa. Não bastasse a deferência, os Pais da Nação americana ainda franquearam a adega. Osborne não só escolheu o vinho para o brinde inicial, como as soberbas garrafas de todo o jantar. Na primeira taça, champagne Monsieur Dorsey, safra 1783, de Ay, "melhor do que a servida aos reis pelos monges beneditinos de Hautvillers", na opinião de Jefferson. Ostras da Normandia com Meursault, Goutte d'Or; Montrachet para o macaroni com parmesão e anchovas; o Beef à la Mode com Haut Brion e Château Margaux, vintages 1784. E a torta de sorvete com Château d'Yquem. "Nosso convidado tem um gosto impecável!", sorriu Franklin para Jefferson. Este ficou surpreso com o conhecimento de Osborne sobre os vinhos de sua preferência. O professor explicou a Jefferson que um livro recentemente publicado nos EUA revelou a lista de vinhos completa das garrafas compradas, degustadas e guardadas na sua adega de Monticello. Essa ficção cheia de anacronismos é obra de James Gabler, que utiliza fatos históricos e considerações documentadas para compor A Evening with Franklin and Thomas Jefferson – Dinner, Wine, and Conversation( Bacchus Press/ 2006), livro lançado em 2006 por ocasião do 300º aniversário de nascimento de Franklin. Até sobre os atentados terroristas às torres gêmeas do WTC eles conversaram. Jefferson chega a comparar esses ataques aos sofridos pelas tripulações de navios americanos no Mediterrâneo, comandados por piratas muçulmanos.

www.thomasjefferson.net.

DC/julho/2008

Saint James's Street, 3

A Berry Bros. & Rudd, a mais antiga loja de bebidas do Reino Unido, e possivelmente de todo mundo, foi a primeira a lançar um site entre as casas do gênero. Hoje importa e vende via internet e no mesmíssimo balcão de madeira escura de outrora mais de 4 mil garrafas diariamente. A Berry Bros. & Rudd funciona há mais de 300 anos no número 3 da Saint James Street, no West End londrino, e permanece sob o comando da família pioneira, hoje na oitava geração. A Saint James é a rua que vai de Picadilly ao palácio Saint James, trecho notabilizado por alguns clubes remanescentes do século XIX, lojas exclusivas e tradicionais de roupas e calçados. Nessa região da cidade aconteceram as primeiras grandes feiras, com circulação das novidades de todo o mundo. Quando foi aberta, em 1698, tinha um perfil mais eclético. Além de bebidas, comercializava cafés e outras mercadorias importadas. Na segunda metade do século XVIII, já era fornecedora oficial do rei George III. Continua abastecendo a família real britânica até hoje. Simon Berry, chairman da empresa desde 2005, foi nomeado este ano uma espécie de gerente das adegas reais. Foi a partir do século XIX que a Berry Bros. & Rudd entrou definitivamente no ramo das bebidas, buscando o que de melhor se produzia em todo mundo, de châteaux a pequenas vinícolas. O celebrado whisky Cutty Sark é uma criação da loja, que tem ainda 70 rótulos próprios, sendo o Good Ordinaire Claret (cerca de R$ 23 a garrafa) o mais vendido. Estão todos guardados numa moderna adega que armazena 3 milhões de garrafas, incluindo aí algumas reservas de clientes.

www.bbr.com

DC/set/2008

"Vermelhos" na casa de Marx

O economista Victor Ginsburgh ainda não abriu as duas garrafas de vinho que levou de Trier, cidade ao longo do rio Mosel, na Alemanha, para Bruxelas, na Bélgica. As garrafas de pinot noir foram compradas na lojinha de lembranças da Karl Marx Haus, uma das atrações de Trier, cidade natal do economista e filósofo Karl Marx, a mesmaTrier que séculos antes fora residência do imperador Constantino. O ideólogo comunista ilustra o rótulo dos Spätburgunder produzidos na Maximin Grünhäuser com uvas de vinhedos muito próximos aos de Mertesdorf, cultivados pelos pais de Marx. Quem conta a história é Karl Storchmann no blog da Associação Americana dos Economistas do Vinho (AAWE - American Association of Wine Economists). A conferência anual da entidade, em 2007, foi realizada justamente em Trier. Ano em que a casa de Marx registrou 42 mil visitas: 12 mil chineses e 100 economistas da AAWE. Storchmann relata que Marx, em 1835, aos 17 anos, dividia seu tempo entre os bancos da Universidade de Bonn e das tavernas. Apreciador de um bom vinho, chegou a ser presidente do Trier Tavern Club. Mais tarde, foi estudar Filosofia em Berlim, onde doutorou-se em 1841. E o vinho ganhou outro peso em sua vida. Foi a pobreza dos viticultores do Mosel que o levou à Economia e, depois, ao Comunismo, explica Storchmann. A região de Mosel tornou-se província da Prússia em 1815. Era de onde saía quase a totalidade da bebida para o império. Áureos tempos. Até que, com a queda de impostos, o vinho alemão passou a inundar o mercado prussiano levando o Mosel ao desespero.

http://wine-econ.org/2008/08/05/karl-marx-another-wine-economist.aspx

DC/out/2008

França revisitada

Uma nova geração de pequenos vitivinicultores franceses, muitos deles adeptos da biodinâmica, começa a se destacar com seus vinhos também de terroir, alcançando em qualidade muitas garrafas saídas de pomposos châteaux. E ainda: com preços acessíveis a simples mortais. Derradeira chama enológica num país profundamente ligado a seus vinhedos e seus vinhos? Essa é a tese colocada em discussão pelo jornalista Robert V. Camuto em Cork Screwed -Adventures in The New French Wine Country, que acaba de ser lançado pela Universidade de Nebrasca. O exagero parece ser proposital. Vivendo na França desde 2001, o articulista da Wine Spectator e do Washington Post relata seu périplo pelo interior do país à procura de produtores "autênticos", em contraposição àqueles mantidos mercadologicamente à frente das ex-propriedades, mas já distantes das políticas e do caixa dirigidos por conglomerados internacionais. Tem assustado Camuto, que vive na França com a família desde 2001, a desmedida transformação dos vinhos franceses em commodities, disputadas a preço de ouro por novos ricos chineses e russos. (Apesar das muitas mudanças de comportamento, o chinês comum é bem capaz de misturar um Bordeaux com Coca-Cola para adoçá-lo a seu paladar.) Camuto registra ainda que a França vive um período de muitas restrições, como a lei seca ao volante, que acaba acertando alvo errado. Policiais não perdoam nem mesmo motoristas à saída daqueles que já foram sacrossantos almoços dominicais regados a bons tintos.

DC/nov/2008

Milhões de fantasmas

Não é de hoje que o fantasma chinês assombra o mundo do vinho. O jornalista Mike Steinberg, num post na Slate on-line, lembra que durante a "bolha da Internet", um empreendedor chinês do setor, baseado em Xangai, causou furor ao arrematar por US$ 500 mil 6 magnuns do Screaming Eagle 1992 – um Cabernet Sauvignon dos mais respeitados do Vale do Napa, Califórnia. Era o primeiro sinal de uma febre que não baixa. Hoje, um quatro dos vinhos leiloados no mundo estão em coleções de magnatas em Hong Kong. E cerca de 40% das garrafas finas (Bordeaux, Borgonha) dos negociantes ingleses acabam na China. Esse requinte, entretanto, ainda está restrito a yuppies e executivos estrangeiros. Há uma grande muralha cultural a ser vencida: os chineses não gostam do vinho seco ao estilo ocidental, acostumados com a ancestral mistura de frutas que garante apreciada doçura. Então o fantasma de muitos zeros e bocas é manso? Analistas acreditam que os preços dos vinhos franceses já estão sob pressão. Mas os chineses ainda não podem sugar todo vinho fino produzido no mundo. Além disso, não conseguirão a curto prazo invadir com vinho outras praças como fazem com suas bugigangas. A China tem 453 mil ha de vinhedos, mas apenas 10% das uvas são para vinho. As vinícolas têm dificuldade de suprimento: os vinhedos são familiares, plantados depois de 1949, sob inspiração de Mao – era a estratégia do líder para que os grãos deixassem de ser carreados aos destilados e virassem comida. Assim, o quesito qualidade ainda é um sonho, só conseguido por meia dúzia das 450 vinícolas em operação no país, entre elas Great Wall, Dragon Seal, Changyu, Huadong e Grace Vineyard. Estas não só manejam vinhedos próprios, mas já contam com investimentos e tecnologias de fora.

http://www.grapewallofchina.com/

DC/nov/2008

A nobre retsina do Peloponeso

Há um movimento entre vinicultores gregos para melhorar a imagem da retsina, o vinho aromatizado com resina, uma receita de mais de 2.500 anos. A garota-propaganda mais famosa da causa é a grega Corinne Metzelopoulos, nada menos do que a dona do Château Margaux. Quando provocada por jornalistas sempre diz que adora a bebida. Na Antiguidade, a resina da terebentina, do pinheiro Aleppo e até mesmo a mirra bíblica eram misturadas ao mosto como conservante. Seu poder antibactericida era reconhecido. Mas o gosto da retsina, ele mesmo, passou a agradar e virou tradição. Quem visita a Grécia em tempo de paz (não agora, quando há guerra nas ruas contra o governo), vai encontrar numa taverna um senhor de boné preto, passando o tempo com seu tombolói (espécie de terço), tendo à frente uma jarra gelada de retsina. Nas últimas décadas, a queda de qualidade da bebida (uvas baratas, aromatização artificial, armazenamento em descuidadas barricas) andou afastando jovens gregos influenciados por certa assepsia cosmopolita. A volta por cima se deve à retsina Ritinitis Nobilis, feita com selecionadas uvas roditis (não a savvatiano associada à velha retsina), plantadas pela vinícola Gaia nas colinas de Aegialia, ao norte do Peloponeso. O segredo parece estar na dose precisa de resina adicionada ao vinho. O Peloponeso foi citado por Homero como Ampeloessa, ou seja, lugar "cheio de vinhas". Garrafas de retsina de qualidade também são produzidas pela casa Kechri, na Thessalônica.

http://www.wisegeek.com/what-is-retsina.htm

http://gogreece.about.com/cs/fooddrink/a/retsina.htm

DC/dez./2008

Francis Coppola Presents...

Agostino fazia seus vinhos no porão do apartamento da família em Nova York, em lagares de concreto que ele mesmo construiu. Eram vinhos rústicos que deixavam os encontros familiares mais fluentes e saborosos. Agostino era avô do diretor de cinema Francis Ford Coppola, que soube das proezas pelo tio. Há cerca de três anos, Francis montou uma vinícola especialmente para reproduzir os "vinhos do dia-a-dia" que marcaram a vida dos primeiros imigrantes Coppola. Francis e a mulher, Eleonor, iniciaram seu projeto enogastronômico há cerca de três décadas. Os negócios não param de crescer. Tanto que afastaram o diretor dos sets por cerca de oito anos. Youth Without Youth, lançado em 2007, já foi financiado com o dinheiro dos vinhos. De Rubicon State, antiga Niebaum-Coppola Winery, em Rutherford, região dos grandes Cabernet Sauvignon do Vale do Napa, saem vinhos premiados e caros, muitos deles a mais de US$ 100 a garrafa. Coppola resolveu comprar uma nova propriedade em Geyserville, Sonoma, para produzir também vinhos mais populares. Foi batizada de Francis Ford Coppola Presents, com destaque para a linha Rosso & Bianco, com garrafas a US$ 11. O Rosso Classic que remete a Agostino tem um blend especial: 48% zinfandel, 27% syrah e 25% cabernet sauvignon. Há dois anos o diretor patrocina um concurso de curtas que tratam do prazer dos vinhos de todo dia (Rosso & Bianco Theater Movie Contest). Vale a pena visitar o site indicado abaixo para ver o desenho do gato vencedor deste ano. E a coleção dos curtíssimos filmes de menos de um minuto dos enófilos-cineastas de 2007.

http://www.ffcpresents.com/

http://www.rubiconestate.com/site.php

DC/dezembro de 2008

Vinhos no Porto de Paraty

A revista britânica Condé Nast Traveler é uma espécie de bíblia dos viajantes. Não dispensa o que é bom na tradição, mas foge das letras puramente góticas. O restaurante Porto, no centro histórico de Paraty, já foi incluído na sua lista dos 100 melhores lugares do mundo para se comer. A cozinha fusion do Porto, com pratos de peixes e frutas da terra, como a carambola, o risotto com a leveza do nosso palmito, e corretas massas com fresquíssimos e macios frutos do mar tem atraído a suas mesas bons gourmands. Os mais vips hoje em dia são os escritores da Flip, a Feira Literária Internacional de Paraty. O anglo-indiano Salman Rushdie, que acaba de ser condecorado com o título de cavaleiro pela rainha Elizabeth II, esteve nas mesas do Porto certamente falando dos planos de escrever um livro sobre os nove anos em foi caçado por radicais islâmicos indignados com seus Versos Satânicos. Chico Buarque também já desfrutou da boa comida ali servida, assim como o chef-celebridade Anthony Bourdain, do No Reservation e dos Maus Bocados, livro lançado no início deste ano pela Companhia das Letras. O crítico do New York Times gostou do serviço preciso. Acrescentaria o piano das noites, o som ambiente com escolhidos momentos do jazz de John Pizzarelli e os vinhos bem escolhidos da sua adega. O Porto prestigia a casa Miolo e dá destaque a espumantes Salton. Na lista de vinhos de fora oferece uma seleção já aplaudida por críticos como Robert Parker e Jancis Robinson, além das revistas Gambero Rosso, Revue du Vin de France e Wine & Spirits. Dos vinhos argentinos em destaque, com boa relação qualidade/preço, incluem o Caro 2003 (Catena Zapata-Lafite-Rothschild), o Pedriel 2002 (Bodega Norton) e Alto las Hormigas 2006.

www.eco-paraty.com

DC/Agosto de 2008

Que vivan los tomeros!

Imponente, mas amigável, "de casa", a Cordilheira dos Andes é sempre invocada com paixão por viticultores chilenos e argentinos. Enrique Toso, da vinícola Pascual Toso, sempre diz que é preciso "mirar para arriba", olhar para o alto, tratando de exaltar para o mundo que a vizinha cordilheira é a grande fonte do clima e da água que dão caráter às uvas e aos vinhos locais. Não é, portanto, somente a irresistível moldura para a série de bem cuidados vinhedos a seus pés. O argentino Carlos Pulenta, da vinícola Vistalba, em Mendoza, também fala com carinho dessa vigorosa linha montanhosa. Na apresentação de seus vinhos em São Paulo na última terça-feira, no restaurante Pobre Juan, Pulenta tratou de enaltecer uma das figuras indispensáveis da região, o tomero. Conta que o próprio pai, Antônio, foi um tomero, profissional que controla a "toma" da água que corre pelos rios das montanhas para abastecer cada uma das propriedades. A "nobre ocupação" foi criada em 1833 e se mantém viva até hoje. Tomero batiza uma série de vinhos varietais da bodega, de uvas sauvignon blanc, semillón, chardonnay, malbec, cabernet sauvignon, syrah, petit verdot e pinot noir, todas cultivadas na propriedade de 400 hectares no Valle de Uco. Carlos Pulenta também apresentou seus vinhos de corte com assinatura Vistalba, a jovem vinícola em Luján de Cuyo, elaborados com uvas malbec, cabernet sauvignon, merlot e bonarda. Alguns de seus vinhedos de corte são justamente remanescentes de 80 anos, que sobreviveram bravamente à devastadora Phylloxera. Os integrantes da Famiglia Valduga também olharam para "arriba". E viram nos vinhos de vocação de Pulenta uma oportunidade de unir "filosofias" irmãs, como diz Juarez Valduga. A Domno, nova empresa do tradicional grupo brasileiro, criada para investir na produção de espumantes e em importados, está trazendo Tomeros e todos os três cortes Vistalba para o Brasil. A Domno estreia no mercado com 400 mil litros do espumante .Nero.

www.carlospulentawines.com

www.domno.com.br

DC/27/03/2009

Fogo e vinho de Natal

Cedric Dickens, bisneto do escritor Charles Dickens, costumava dizer que os personagens delineados pelo bisavô não eram somente entes da imaginação e dos livros. Gostava de lembrar que certa vez ao tomar um táxi em Londres viu que na direção estava Tony Weller, o memorável cocheiro de Pickwick. Os bêbados e os sábios bebedores de Dickens também podem ser facilmente encontrados nas esquinas, nas inebriantes tavernas e nas boas mesas de todo mundo. Maypole Hugh, da turma de Barnaby Rudge, tinha fama de ser capaz de beber um Tâmisa inteiro. Já Mr. Pickwick bebia por prazer, com moderação, como o próprio Dickens pregava na vida pessoal. Ficaram célebres os coquetéis apreciados pela coleção de tipos dickensianos, entre eles o Ponche de Natal, mistura de rum, limão e açúcar, servido quente em taças de Claret, ao pé das lareiras. O Natal de Dickens, com as famílias reunidas e aquecidas pelo fogo e pelo poder congregador das bebidas, é imagem universal. Em 1832, quando o jovem repórter de 20 anos relatava as discussões travadas na Casa dos Comuns sobre o "gim", os vinhos mais populares na Inglaterra chegavam da Espanha e Portugal. Os franceses eram taxados e ficavam muito caros. Não é à toa que os personagens de Dickens tomam mesmo é Porto e Sherry. Já escritor famoso, tinha na adega em Glads Hill muitos desses mesmos vinhos, alguns muito raros, em gigantesgarrafas Magnum.

DC. dez/2008

Malbec ao ponto

Malbec argentino com carne da Argentina. A combinação nunca foi tão difundida. Os vinhos da cepa que nasce com vigor na região de Mendoza não precisam pegar carona na fama da suculenta e saborosa carne dos pampas, mas não dispensam a parceria. Wines of Argentina, entidade que promove os vinhos do país, tem um slogan sob medida para essa sintonia: "Malbec, made for meat". Levada para a Inglaterra, a campanha ganhou a forma de concurso. Afinal, quais Malbec combinam melhor com os pratos de carneiro, carne de porco e o tradicional roast beef britânico? Não à toa, o Alta Malbec 2004, da Bodega Catena Zapata, ficou no topo da lista depois de computadas as notas das degustações realizadas em várias cidades inglesas. Por trás desse sucesso está Nicolás Catena, que em 1988, depois de ter sobrevivido à derrocada econômica dos anos 70, resolveu transformar radicalmente seu negócio. Se a crise reduzia o mercado interno, era hora de exportar vinho de qualidade. Catena chegou a importar da Califórnia o consultor Paul Hobbs, o enólogo que ajudou Robert Mondavi a montar o projeto Opus One. Hobbs impôs práticas para melhor a qualidade dos vinhos, incluindo replantio de videiras. A uva malbec entrou na receita da "reconversión" como ingrediente que o mercado esperava, variedade exuberante em taninos, superando a declinante mãe que sobrevive em solo francês. Hoje os vinhos Malbec são uma espécie de âncora nos negócios do vinho argentino e correspondem a 50% das exportações de vinhos finos. Resta saber o impacto da crise internacional nesse mercado nos próximos anos. Dificilmente o país conseguirá manter o crescimento médio anual das exportações em 30%, como registrou entre 1998-2006.

http://www.winesofargentina.org/index3.php

http://www.catenawines.com/

DC. dez/2008

Ao ritmo do hip-hop

Fess Parker Jr., o famoso Daniel Boone dos seriados dos anos 60/70, tem seus vinhedos em Los Olivos, Califórnia. No espaço de degustação da vinícola, além de vinhos, vende pequenos gorros para garrafas inspirados naquele de pele que levava à cabeça como Daniel Boone. Quem se habilita? Gerard Depardieu, ator francês que faz questão de ser chamado de vigneron, faz seus vinhos em várias partes do mundo, com uvas de Bordeaux, Vale do Loire, Languedoc Rousillon (França), Catalunha e Castilla y León (Espanha). Seus negócios já têm braços no Marrocos e na Argentina. Greg Norman é um ex-golfista profissional que fez fortuna no esporte e agora faz vinhos de primeira em propriedades na Califórnia e na sua Austrália natal. Cresce o número de celebridades nascidas nos palcos, teatros, gramados e nas telas de cinema que avançam em terreno vinícola. A mais recente é Lil Jon (foto), o rapper americano que investe agora na Little Jonathan Winery e já conquistou boas notas para seu Chardonnay, tanto da revista Wine Spectator como da People. Especialistas da Associação dos Economistas do Vinho estudaram o fenômeno e são taxativos ao dizer que um vinho de celebridade não significa um vinho ruim, já que a maioria coloca à frente dos negócios profissionais dos mais habilitados. Também não querem ver suas imagens associadas a produtos de segunda. O fato é que a fama de alguns desses vinhos pode andar na mesma curva do sucesso ou do efêmero da celebridade de plantão.

http://www.gregnormanestateswine.com/greg_norman_wine.php

http://www.fessparker.com/html/winery2.html

DC, dezembro de 2008

Não é rolha, mas como respira!

Tim Keller, aluno de Viticultura e Enologia na Universidade da Califórnia, em Davis, juntamente com dois colegas de MBA, criaram um novo conceito de tampa para as garrafas de vinho. Uma versão de screw cap capaz de respirar na medida certa para garantir o bom envelhecimento de cada tipo de vinho. Resta para 2009 encontrar empresários dispostos a investir na fabricação em série. Em resumo, a screw cap de Keller ganhou revestimento que alterna camadas finíssimas de metal e de polímero poroso, criando "respiradouros" que somente a nanotecnologia sabe desenhar. O projeto venceu a competição anual de empreendedorismo da universidade (Big Bang! Business Plan Competition) e sua equipe levou US$ 15 mil. Keller trabalhou 10 anos em vinícolas de Sonoma e do Vale do Napa e por isso conheceu de perto os prejuízos que a contaminação das rolhas de cortiça por fungos traz à indústria do vinho. Ao site da universidade, Keller disse que as rolhas sintéticas, criadas como alternativa às de cortiça, não responderam integralmente ao problema do TCA, uma vez que permitem a passagem de mais oxigênio que o necessário, provocando indesejada oxidação. Estudiosos de Davis dizem que a screw cap, cápsula de metal com rosca, que ganha espaço entre vinicultores do Novo Mundo, incluindo os EUA, tem se mostrado viável para vinhos brancos, mas não são capazes de permitir a entrada de oxigênio nas doses necessárias para os tintos mais finos. A "screw cap que respira" seria uma solução barata para o problema. Os cálculos iniciais indicam que poderia ser vendida a US$ 0,20 a unidade - US$ 0,11 a menos que a rolha de cortiça e US$ 0,05 a menos que a screw cap normal e a sintética.

8669">http://www.news.ucdavis.edu/search/news_detail.lasso?id>8669

DC de fevereiro de 2009

Youngbloods da Serra Gaúcha

Os jovens irmãos Carraro estão transformando a Lídio Carraro, na Serra Gaúcha, numa vinícola de referência. O empenho com que emprestam modernidade ao trabalho do pai pode ser comparado ao de novas gerações de viticultores na França e na Austrália. Os aussies de Rutherglen, conhecidos como Youngbloods, desde 2003 têm injetado sangue novo nos negócios de seus antepassados e promovem outra revolução, processando a moscatel sob rígido código de conduta. O clone francês dos Youngbloods, o Bordeaux Oxygène, formado em 2005 por representantes de 17 châteaux, investem pesado em marketing, não descartam blends diferentes e estão atrás de jovens consumidores, nem que para isso tenham que cometer a "heresia" de colocar no rótulo o nome das uvas. Aqui, Patrícia Carraro, diretora de marketing da Lídio, e os irmãos trabalham com determinação o conceito de vinho de butique – produção menor e de mais qualidade do Vale dos Vinhedos. Essa estratégia já os levou ao Duty Free: os primeiros vinhos brasileiros nas lojas dos aeroportos internacionais. Um dos seus rótulos também ostentou o selo de vinho oficial dos Jogos Pan-americanos do Rio. Há mais de dois anos, Patrícia nos apresentou garrafas de Elos (Cabernet Sauvignon) e Quorum (com 4 cortes diferentes) durante almoço no La Bourse, restaurante da Bolsa de Valores de São Paulo. A empresa começava a mudar. Hoje esses surpreendentes vinhos estão em boas mesas da República Checa, Dinamarca, EUA, França, Alemanha e Angola. Uma garrafa dos Carraro já tomou conta da capa inteira da revista checa Víno Revue. O elegante rótulo traz o cacho de uvas estilizado, logo que também é um orgulhoso mapa do Brasil.

www.lidiocarraro.com/

www.rutherglenvic.com

DC de fevereiro de 2009

O jardim de Pantelleria

Os vinhedos não estão sozinhos na terra árida de Pantelleria, a ilhota desgarrada da Sicília, a meio caminho da África. No distrito de Khamma, onde a Vinícola Donnafugata mantêm videiras e uma adega para seu vinho doce, o ambarino Passito Ben Ryé, há também um original "giardino pantesco", típico das culturas mediterrâneas, e exemplo da engenhosidade do homem para enfrentar agruras climáticas ao longo dos séculos. Essa verdadeira jóia de Pantelleria, como os ambientalistas tratam esses jardins ancestrais, restaurada e doada ao patrimônio histórico italiano (Fondo Ambiente Italiano - FAI) no final de 2008 pelos proprietários da vinícola, será aberto ao público no último fim de semana de março, durante a 17ª edição do evento Giornata di Primavera. Há cerca de 100 desses jardins na ilha, muitos abandonados ou necessitando de urgente resgate. O jardim de Donnafugata (veja foto) tem um formato circular com pouco mais de 10 metros de diâmetro e é cercado por uma pequena muralha de pedras vulcânicas de 4 metros, com uma portinhola. Lá dentro, uma centenária laranjeira portuguesa mostra vigor, revelando um surpreendente e auto-suficiente modelo agronômico. O registro mais antigo desse tipo de jardim foi feito por sumérios há cerca de 3.000 anos a.C.. As paredes de pedra protegem as plantas dos ventos exagerados que sopram da África. As rochas porosas são capazes de "armazenar" água de um ambiente com grandes diferenças de temperaturas entre dia e noite. Suprimento indispensável para uma região que convive com períodos de seca de até 300 dias consecutivos. Como a laranja-símbolo do jardim tombado pelo FAI, a uva zibbibo (moscato d’Alessandria) do Ben Ryé também requer manejo especial contra as agruras dos ventos: é cultivada em vinhedos bem baixos, que também contibuem para a concentração de açúcar dos frutos. Natural da costa norte da África, a zibbibo foi levada para Pantelleria pelos árabes há vários séculos.

www.donnafugata.it

DC de 27/2/2009

Corrida do Ouro. E do vinho.

Nas garrafas de vinho Moscatel saídas de Rutherglen, a letra "R" estampada no rótulo é um sinal de qualidade. É também uma mensagem para uma nova geração de amantes do vinho, que não sabe o quanto a cepa foi importante no desenvolvimento da vinicultura da Austrália. Rutherglen é uma das mais antigas regiões vinícolas do país, no Nordeste de Victoria. Terras favorecidas pela proximidade do rio Murray. Desde meados do século XIX imigrantes tiram proveito de suas noites geladas e dias secos e quentes. A região produz vinhos fortificados, especialmente da brown muscat, como os aussies tratam a moscatel, variedade de pequenos bagos, hoje processadas sob rígido código de conduta. Mas há ainda tintos frutados e robustos (Shiraz e Durif), "modernos" brancos (destaque para o Riesling), espumantes e rosés ao estilo da Provence. Uma das vinícolas de mais tradição é a Chambers Rosewood, que acaba de completar 150 anos. O primeiro Chambers conhecido, William, chegou da Inglaterra em 1856, com mulher e dois filhos, época em que mudar para a Austrália era o mesmo que "mudar para outro planeta", descreveu Roberta Horn no site dos produtores. Ele e os filhos Jabez e Philip foram logo arrendando um pequeno terreno para iniciar seu vinhedo. Foi quando a sorte os alcançou. O ouro foi descoberto em Rutherglen em 1860. Para chegar às escavações, aqueles que participavam dessa corrida tinham de cruzar a propriedade. William tratou de cobrar uma espécie de pedágio e conseguiu juntar dinheiro para comprar os primeiros 32 hectares. Em 1889, a terceira linha dos Chambers enfrentou em casa a febre tifóide e, nos vinhedos, a Phylloxera. Só conseguiram reerguer a propriedade 17 anos depois. Muito do que a vinícola é hoje deve-se a Bill, da quinta geração, que não desprezou a ciência. Foi o primeiro da família a ter educação formal em Enologia, no famoso Roseworthy Agricultural College, no Sul do país. Hoje a propriedade é tocada pelo filho, Stephen, que estudou Agronomia na Universidade de Adelaide. Stephen é um jovem animador da vinicultura de Rutherglen, representante de uma nova geração de winemakers reunidos no grupo Youngbloods.

www.rutherglenvic.com/

www.winebiz.com.au/statistics/viticulture.asp

DC 13/3/2009

Ode às magnitudes

Na ode que fez à Grécia e todas as suas magnitudes, o escritor norte-americano Henry Miller (1891-1980) não deixou de escrever um elogio ao vinho Mavrodaphne de Patras, um doce tinto muito especial preparado no Peloponeso. E também algumas linhas à retsina, o ancestral vinho misturado à resina, consumido nas tavernas gregas ao ritmo dos komboloi (contas em colar manipuladas para matar o tempo). A degustação de um Mavrodaphne ganhou um mar de metáforas. É o vinho que "desliza pela garganta como vidro fundido, incendiando as veias como um líquido pesado e vermelho que expande o coração e a mente". Ao prová-lo, a sensação é de peso e leveza ao mesmo tempo. "Sente-se ágil como um antílope e, no entanto, incapaz de se mexer. A língua se liberta de suas amarras, o paladar se engrossa de forma agradável, as mãos descrevem gestos largos e soltos, tais como se gostaria de obter com um lápis grosso e macio. Sente-se com vontade de descrever tudo em vermelho-sangue ou pompeiano com respingos de preto carvão e negro-de-fumo" (a tradução é da jornalista Cintia Shimokomaki) . Henry Miller (foto abaixo) visitou a Grécia em 1939, antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, e o relato dessa viagem se transformou em um de seus livros preferidos, O Colosso de Marússia, no qual reflexões apaixonadas sobre a vida comum se misturam a abordagens metafísicas mais sutis. "Na Grécia, as rochas são eloquentes: os homens podem estar indo para a morte, mas elas, nunca". Em vários momentos da obra, Miller apresenta o espírito do lugar ao descrever seus encontros e suas conversas com George Katsimbalis, um dos grandes poetas modernos do país. Katsimbalis é o colosso que chegou ao título do livro, o grego trágico, carregado de heranças, para quem a retsina é verdadeira panacéia. Faz bem para o pulmão, fígado, intestinos, para a mente, como todos os gregos parecem gostar de pensar. Nesse livro de Miller, Dionísio é muito mais forte que Eros.

DC de abril de 2009

Bramaterra no Bastian Contrario

O restaurante Bastian Contrario, numa das estradinhas da colina de Turim, a que leva a Moncalieri, é conhecido como “Il Re degli antipasti”. São 69 travessas e caçarolas contadas na bancada, como num museu vivo de sabores. Mais do que uma competição de antepastos, entretanto, trata-se da defesa intransigente da tradição piemontesa das entradas, preparadas ao rigor de receitas seculares. O Bastian é slow food desde que nasceu: mesa reservada é mesa para uma noite inteira de delícias, sem pressa, combinadas com os vinhos do Piemonte. Tanto os espumantes de Asti, que amaciam o ancestral calze di seta (fígado de porco com “meias” de gelatina), como os tintos jovens e rústicos que caem bem tanto com o talharim ao tartufo como com o gnochetti ao molho de tomate e manjericão, ou ainda o stracotto d’asino e mesmo polenta acompanhada com geléia de mirtilo. Um dos tintos de predileção no Bastian Contrario é o Bramaterra, produzido em sete cidadezinhas (Masserano, Brusnengo, Curino, Sostegno, Villa del Bosco, Lozzolo e Roasio) perdidas nas províncias de Biella e de Vercelli. O Bramaterra que é DOC desde 1979 carrega traços do mesmo vinho produzido na região no final do século XI, conhecido como Vino di Masserano. É hoje uma mistura de uvas Nebbiolo (de 50% a 70%), Croatina, Vespolina e Bonarda. O produtor Barboni Lodovico, que alimenta o Bastian Contrario, mantém suas videiras em 4 hectares, paixão e teimosia em terra qualificadíssima para a produção de arroz. A Azienda Agricola La Ronda fica em Roasio, Vercelli. Além do Bramaterra, Ludovico faz o Coste della Sesia e o mais recente La Brenta.

www.ristorantebastiancontrario.it
http://www.terradeivini.net/

DC de fevereiro de 2009

Doux d'Henry, a última fronteira

Até hoje ninguém se atreveu a dizer se as videiras de Doux d'Henry têm origem francesa ou italiana. O que se sabe é que pequenos vinhedos dessa cepa são cultivados há séculos nos arredores de Pinerolo, cidadezinha colada a Bricherasio e a poucos quilômetros de Turim, no Piemonte. Terra de fronteira e, por isso, de acirradas disputas, a região de Pinerolo serviu ao poderoso de cada ocasião, francês ou nobre de alguma parte de uma Itália dividida. Contam que o nome do vinhedo (e o da própria variedade) deve-se a Henrique IV, rei da França. O monarca teria ficado entusiasmado com um vinho amabile degustado no Vale do Susa, região da famosa Sacra de San Michele. O rei visitava Carlo Emanuele I de Savóia para a assinatura de um tratado. Era início do século XVII e aquele vinho, desde a ocasião, passou a ser conhecido como Doux d'Henry. Os textos históricos relatam que, num primeiro momento, era principalmente vinhedo de uvas de mesa. Mais tarde passou a produzir vinho para ser misturado aos de outras cepas regionais. O Doux d'Henry quase foi tirado do mapa durante o remanejo das plantações, após o ataque da Phylloxera vastatrix, nos anos 20. Mas alguns produtores mais tradicionais conseguiram manter parte desse vinhedo de charme que, além de tudo, é estéril e depende de vinhedos vizinhos para o mecanismo da polinização. Apesar de a produção do tinto seco Doux d'Henry estar limitada à região do Pinerolese, nos vilarejos de Cumiana, Frossasco, Roletto, Cantalupa, San Secondo di Pinerolo, San Pietro Val Lemina, Prarostino e Bricherasio, todos incrustados nas colinas, viajantes atentos podem encontrá-lo em cidades maiores. Nas últimas décadas, os viticultores passaram a se dedicar ao Doux d'Henry como vinho varietal, já que desde 1996 Pinerolo é área reconhecida com a chancela DOC (Denominazione di Origine Controllata). Segundo o site da vinícola Il Tracio, hoje os viticultores fazem experiências sonhando com a produção de um "passito". O "Pinerolese Doux d'Henry" da Il Tracio foi um dos vinhos de destaque de janeiro no Eataly, grande centro enogastronômico em Turim, no Piemonte.

www.iltracio.com

http://winecountry.it/regions/piedmont/cities.php

DC de 3 de abril de 2009

Troféus de piratas

Uma fotografia da AP divulgada pelo blog Vinography, escrito pelo bem informado Alder Yarrow, tomou conta de sites e páginas sobre vinhos na internet. Mostra um grupo de piratas somalis erguendo caixas de vinho da Califórnia como troféus. Como essas garrafas foram parar ali naquele conturbado pedaço de Oceano Índico? As histórias sobre ataques piratas na costa africana ao sul do Canal do Suez estão nas primeiras páginas de toda imprensa mundial. Mas um episódio curioso foi registrado no calar de março. A tática foi a mesma: pequenos botes se aproximaram do cargueiro Matriarch, piratas armados até os dentes dominaram a tripulação desarmada e fizeram festa com as mercadorias a bordo. No caso do refrigerado Matriarch, chamava a atenção o lote de 250 caixas de vinho, com destino ao porto de Dubai. A exibição de Cabernets cults da Califórnia, como identificou o blog Vinography, mostra que os piratas já têm noção do valor desse tipo de commodity – garrafas avaliadas em centenas e até milhares de dólares: Harlan, Screaming Eagle, Colgin, Husic... Mas a Somália não é um país inteiramente muçulmano, onde a bebida alcóolica é proibida? Mas quem disse que os piratas vão degustar as preciosidades? Há ainda o comentário de revisionistas da lei islâmica. São os primeiros a dizer que o condenável é a embriaguez, não a bebida em si, apegando-se às primeiras "suras", revelações ao profeta Maomé que apresentaram o vinho como um presente de Deus. Somente este ano, os ataques já renderam aos piratas somalis US$ 30 milhões de dólares. Diante de um Estado falido e miserável como a Somália, esses ex-pescadores encontraram no crime uma atividade inicialmente de sobrevivência e, agora, um grande negócio. Bons vinhos como os saqueados têm abastecido principalmente vips de centros financeiros endinheirados, cada vez mais longe de Manhattan. Segundo o Vinography, a crise fez o movimento dos restaurantes de Nova York cair drasticamente. Las Vegas, grande compradora desses hollywodianos cabernets da Califórnia, congelou seus pedidos. Por isso cargas assim cruzam os oceanos em direção a Dubai e Hong Kong.

http://www.vinography.com/archives/2009/04/somali_pirates_take_ransom_in.html

DC de 17 de abril de 2009