segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ode às magnitudes

Na ode que fez à Grécia e todas as suas magnitudes, o escritor norte-americano Henry Miller (1891-1980) não deixou de escrever um elogio ao vinho Mavrodaphne de Patras, um doce tinto muito especial preparado no Peloponeso. E também algumas linhas à retsina, o ancestral vinho misturado à resina, consumido nas tavernas gregas ao ritmo dos komboloi (contas em colar manipuladas para matar o tempo). A degustação de um Mavrodaphne ganhou um mar de metáforas. É o vinho que "desliza pela garganta como vidro fundido, incendiando as veias como um líquido pesado e vermelho que expande o coração e a mente". Ao prová-lo, a sensação é de peso e leveza ao mesmo tempo. "Sente-se ágil como um antílope e, no entanto, incapaz de se mexer. A língua se liberta de suas amarras, o paladar se engrossa de forma agradável, as mãos descrevem gestos largos e soltos, tais como se gostaria de obter com um lápis grosso e macio. Sente-se com vontade de descrever tudo em vermelho-sangue ou pompeiano com respingos de preto carvão e negro-de-fumo" (a tradução é da jornalista Cintia Shimokomaki) . Henry Miller (foto abaixo) visitou a Grécia em 1939, antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, e o relato dessa viagem se transformou em um de seus livros preferidos, O Colosso de Marússia, no qual reflexões apaixonadas sobre a vida comum se misturam a abordagens metafísicas mais sutis. "Na Grécia, as rochas são eloquentes: os homens podem estar indo para a morte, mas elas, nunca". Em vários momentos da obra, Miller apresenta o espírito do lugar ao descrever seus encontros e suas conversas com George Katsimbalis, um dos grandes poetas modernos do país. Katsimbalis é o colosso que chegou ao título do livro, o grego trágico, carregado de heranças, para quem a retsina é verdadeira panacéia. Faz bem para o pulmão, fígado, intestinos, para a mente, como todos os gregos parecem gostar de pensar. Nesse livro de Miller, Dionísio é muito mais forte que Eros.

DC de abril de 2009

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