segunda-feira, 24 de março de 2014

Os Carraro jogam no 4-4-2

O time da vinícola Lídio Carraro, em Bento Gonçalves (RS), já marcou vários gols nos últimos anos. O mais recente, um golaço, é a conquista dos direitos de produzir o vinho oficial da Copa do Mundo da Fifa de 2014, um projeto especial, desenvolvido desde o final de 2011, responsável por novos investimentos e grande movimentação na vinícola. Os Carraro já tinham experiência nessa área: seus vinhos foram escolhidos como oficiais de eventos importantes como os Jogos Panamericanos de 2007 e da temporada de Stock Car 2010. Mas agora é diferente: serão 600 mil garrafas com o rótulo Faces, vinho desenvolvido para a Copa, e não apenas um selo garantidor. Apresentado na importante Vinexpo, em Bordeaux, o "vinho da Copa" (nas versões tinto, branco e rosé) caiu no gosto dos importadores e já embarcou para vários países. O Faces branco homenageia o Rio Grande do Sul, com um blend das uvas Moscato, Riesling Itálico e Chardonnay, as variedades mais plantadas no Estado. Já o Faces tinto é resultado de um corte com 11 variedades diferentes, desta vez também colhidas em vinhedos de terceiros. "Foi a escalação das uvas dos melhores terroirs do Sul do Brasil", diz Patrícia Carraro, a diretora de marketing da vinícola. Por trás do Faces está a enóloga-chefe Mônica Rossetti, que a revista VIP já batizou de "Felipona". Diferentemente do esquema tático 4-3-3 de Felipão, entretanto, ela aposta no tradicional 4-4-2. As uvas do ataque são a Cabernet Sauvignon e a Merlot, que representam mais de 50% do blend (convém lembrar que Lídio Carraro é viticultor pioneiro do cultivo da Merlot na Serra Gaúcha). No meio de campo, participando na complementação do aroma, aparecem as cepas Teroldego, Touriga Nacional, Pinot e Tempranillo. Na defesa, uvas mais tânicas garantem o corpo e estrutura do vinho: Tannat, Nebbiolo, Ancellotta e Alicante. Estas são as "zagueironas", como brinca o crítico de vinhos gaúcho Irineu Guarnier Filho. Para o gol, Mônica escalou a uva Malbec, eficiente no retrogosto, gol fechado durante toda a partida. Os irmãos Patrícia, Giovanni e Juliano Carraro, hoje à frente da vinícola, fazem parte da quinta geração de vinicultores da família. Os primeiros imigrantes chegaram do Vêneto ao Rio Grande do Sul em 1875. Nessa época, os Carraro se dedicaram às frutas. Foi a partir dos anos 1970 que Lídio Carraro passou à viticultura e a uma busca obsessiva pelos melhores locais de plantio, a começar de sete hectares no Vale dos Vinhedos. A adega foi criada em 1998. A fundação da Lídio Carraro veio em 2001, com a aquisição de mais 200 hectares em Encruzilhada do Sul, na Serra Sudeste, hoje um dos grandes pólos vitivinícolas do País. A primeira safra, de 2002, foi comercializada em 2004. O salto da vinícola se deve, sem dúvida, ao empenho da nova geração. Lembro-me bem da jovem Patrícia, ainda meio tímida, mas já apaixonada pelos vinhos da família, ao nos apresentar seus rótulos Quórum e Elos no restaurante La Bourse, da Bolsa de Valores de São Paulo, isso há quase sete anos. Hoje, Patrícia tira de letra as câmeras, defendendo, com paixão redobrada, a qualidade e a "pureza" dos vinhos da Lídio Carraro. Pureza que significa, principalmente, que a bebida não passa por nenhum tipo de barrica. O respeitadíssimo crítico de vinhos Jorge Lucki elogia os Nebbiolo da vinícola e o empenho desses jovens em busca de qualidade. Vinhos de "boutique" é certamente um rótulo preciso para esses vinhos elaborados com extremo profissionalismo, reconhecidos por especialistas do Le Monde e da revista Decanter. Certa vez escrevi aqui que esses irmãos Carraro eram os "Young Bloods gaúchos", emulando jovens australianos e franceses que injetaram "sangue novo" aos negócios das famílias. Patrícia explica que conseguem furar a barreira de um mercado muito fechado jogando fora de casa, ou seja, participando incansavelmente de feiras internacionais. Mas obtêm muita visibilidade ao jogar em campo próprio, atraindo para as cuidadas instalações da vinícola e seus organizados vinhedos jornalistas e negociantes de todo mundo. DC de 21/03/2014

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