terça-feira, 1 de maio de 2012

Nicolas, depuis 1822

Quem flanar por Paris à procura de ... Paris, vai certamente encontrar uma dessas lojas com fachada cor de vinho e um letreiro em amarelo: Nicolas. E não à toa. A casa de negócios de vinho, estabelecida no centro de Paris desde 1822, "um ano após a morte de Napoleão", está hoje em mais de 500 pontos na cidade e redondezas, sem contar as mais de 80 lojas que atravessaram o Canal da Mancha a partir de 1989, para conforto dos ingleses. Hoje, a cadeia pertence ao Grupo Castel, iniciado com negociantes e engarrafadores de Bordeaux, no final dos anos 40, e atualmente um dos maiores produtores de vinho do mundo. O jornalista e escritor Frank J. Prial, colunista de vinhos do NYTimes durante 25 anos, escreveu um texto nostálgico em Remembrances of Things – Paris – Sisty Years od writing from Gourmet (Modern Library Food/2005) em que lembra que, até os anos 60, os pequenos triciclos motorizados da Nicolas cruzavam a cidade de cima a baixo entregando vinho, da mesma maneira como o leite era entregue no Brasil, por exemplo. Mas já muito diferente da Paris de Emile Zola (1840-1902). Comportamento dos tempos do autor de O Ventre de Paris (romance protagonizado por um mercado, Les Halles), ainda nos anos 70 uma lojinha na Rue San Paul, anunciada com o cartaz Vins Du Sud-Ouest, vendia seu vinho em bombas como as de um antigo posto de gasolina. Os números em cada bomba (11, 11,5 e 12) indicavam a dosagem alcoólica de cada vinho. Prial chegou a comprar um pouco de vinho branco para preparar em casa moules marinière. A Nicolas na verdade foi a primeira casa a vender o vinho não por volume, mas em garrafas. A casa também tem no currículo o lançamento do Beaujolais Nouveau em Paris e – o mais importante – sempre deu espaço na sua lista de vinhos aos Vin de Pays, selecionados entre os pequenos produtores que trabalham com qualidade e boas uvas. As ações comerciais da Nicolas ao longo de sua trajetória quase bicentenária envolveram inúmeros artistas e cartazistas. Algumas das peças que lembram um pouco da sua história foram reunidas no livro Nectar as Nicolas (Editions Herscher). Num dos cartazes aparece o emblemático triciclo: "Livraisons rapides à domicile". No site da casa é possível encontrar os catálogos dos vinhos comercializados desde 1928. DC de 20/04/2012

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