sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Do sorgo ao Bordeaux

Para a histórica viagem que fez à China, em fevereiro de 1972, Richard Nixon foi instruído por seus assessores sobre cada detalhe da "exótica" mesa oriental. Por segurança alimentar, depois dos tradicionais brindes com o primeiro-ministro comunista Zhou Enlai, Nixon deveria apenas "bicar" de leve a taça com o vinho, naturalmente feito de sorgo. A imagem-símbolo da visita, entretanto, foi a do presidente americano manejando com certa desenvoltura seus "pauzinhos" no banquete oferecido no Grande Hall do Povo, não distante da Praça de Tiananmen. Os anfitriões de Beijing gostaram. E os chineses de Nova York comemoraram o início dos bons negócios e de uma nova percepção da comida chinesa nos Estados Unidos, escreve Andrew Coe em Chop Suey (Oxford University Press/2009). É claro que o vinho de sorgo não pode ser comparado aos vinhos franceses estocados no Air Force One. No avião, à disposição de Nixon, no caso de uma emergência, garrafas de Ballantine's de trinta anos, Château Margaux 1966, Château Lafite Rotschild 1966, Château Haut Brion 1955 e champagne Dom Perignon. Hoje, com a economia chinesa em expansão e o crescimento de uma classe de endinheirados, não seria difícil encontrar os melhores vinhos Bordeaux e Borgonha numa mesa chinesa. A entrada dos chineses nos mercados de vinhos finos – desbancaram no ano passado os ingleses e alemães no ranking dos compradores de Bordeaux – tem pressionado os preços. Em maio deste ano, um chinês pagou 135 mil libras por uma única garrafa de Château Latour, em leilão na Christie's de Hong Kong. Uma reportagem no jornal The Guardian mostra que os chineses não estão somente comprando boas garrafas, mas também andam adquirindo vinhedos na França. A Cofco, um conglomerado estatal, proprietária das bebidas Great Wall, comprou 20 hectares do Château de Viaud, em Lalande de Pomerol.

Diário do Comércio de 16/09/2011

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