segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Archestratus, o harmonizador

Era 350 a.C. E o poeta grego Archestratus depois de viajar por toda Magna Grécia e vários pontos do Mediterrâneo e Egeu, enfrentando lonjuras da terra e os perigos do mar, escreveu um detalhado guia enogastronômico. “Naturalmente” em hexâmetros, rítmica associada aos versos épicos de Homero. Vários trechos do poema, entretanto, só foram salvos do esquecimento graças menos à prática das cópias do que às citações. Athenaeus de Naucratis, em sua obra Deipnosophistae (Filósofos à Mesa), do final do século III a.C., deu vida a 62 fragmentos de Archestratus, assim como fez com incontáveis autores da Grécia Clássica. Douglas Olson e Alexandre Sens, autores de Archestratos of Gela – Greek Culture and Cuisine in the Fourth Century BCE (Oxford University Press/2003), calculam que o escrito tinha cerca de 1.200 linhas, como era comum para um papiro – 330 versos foram preservados por Athenaeus. Trata-se de um saboroso roteiro pan-helênico com dicas dos melhores ingredientes e melhores comidas. O texto de Archestratus foi batizado de Hedupatheia, que estudiosos traduzem para Vida de Luxo. Peixes e frutos do mar eram as grandes delícias da mesa de então e ganharam muitas observações de Archestratus. Enguias? Louvadas ao extremo quando pescadas no estreito de Messina. Polvos? Os mais carnudos vêm de Thasos e Karia. Lagostins? Os de melhor qualidade são encontrados nos mercados de peixes nas ilhas Lipari e no Helesponto. Mel? Tem de ser o de Atenas – ou pelo menos de outro ponto da Ática. Pães? Toda refeição que se preze começa com eles, além de bolos de cevada. O preciosista Archestatrus entra em cena: melhores se preparados com a cevada de Eresos, em Lesbos, a cevada do deus Hermes. Os vinhos? Nenhum supera o que escorre da ilha de Lesbos, nem mesmo o que vem de Biblos, na Fenícia. Archestratus também dá conselhos sobre banquetes: a coroa de flores na cabeça dos convivas, indispensável, assim como os unguentos e as perfumadas brasas das lareiras. É autor de uma das primeiras harmonizações enogastronômicas que se tem notícia. Numa tradução livre: Quando você estiver degustando seu vinho, peça para alguém trazer-lhe uma salsicha, um pedaço de leitoa envolvida com cominho, vinagre forte e sylphium. Além disso, sirva-se de assados de toda classe de tenros pássaros da estação. Mas nunca faça como os siracusanos (ele mesmo era natural de Gela, perto de Siracusa, na Sicília) que sem nada no estômago, bebem como rãs. E nada de beber o vinho de Lesbos com favas, grão de bico, maçãs ou figos secos.


http://latis.exeter.ac.uk/classics/undergraduate/food3/archestratus.htm

DC de 30/7/2010

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