domingo, 17 de agosto de 2014

O vinho na arte

Faz dez anos que a historiadora Montserrat Miret i Nin, da Universidade de Barcelona, lançou seu livro O Vinho na Arte, no qual faz uma compilação das representações artísticas do vinho e da vinicultura ao longo da história, principalmente aquelas dadas na civilização mediterrânea, espaço de interação de diferentes culturas, mas com uma tríade comum: o trigo, a oliveira e a vinha. O Vinho na Arte (traduzido em 2005 para o português pela editora Chaves Ferreira) tornou-se um objeto de desejo para estudiosos e entusiastas da bebida, livro que tem inspirado outras publicações. Especialista em arte medieval, filha da região vinícola de Penedès, a catalã Montserrat “tanto conhece o carvalho com que se construíram as cadeiras do coro da igreja de Santa Maria de Vilafranca, como as madeiras onde envelhecem os tintos veneráveis de sua terra”, escreveu o historiador Maurício Wiesenthal, ele mesmo especialista em gastronomia e enologia. Temos então em Montserrat a estudiosa com a mão na terra e o coração no céu. No primeiro capítulo, “Imagens e temas do vinho na arte”, a autora discute a presença cotidiana do vinho na história das civilizações, da mesa comum aos atos festivos e de celebração. E também do vinho que ganha simbologias e marca rituais mais ou menos religiosos. Chega assim a uma das representações mais antigas que se conhece: as pinturas rupestres da coleta de uvas, nas grutas Las Mallaetes e Calavares (Valência). Montserrat destaca também os achados arqueológicos da Mesopotâmia, tantos os caracteres cuneiformes representando a parreira, em tabletes de argila encontrados em escavações na cidade-estado de Kish, como os baixos-relevos em alabastro de um banquete de Assurbanipal ao inaugurar sua Nínive (668-626 a.C.). Um capítulo inteiro é dedicado ao Egito, onde são famosos os murais com as representações da colheita das uvas, feitura do vinho e até de seu armazenamento. Os vidreiros egípcios agradavam os nobres com pequenos frascos na forma de cachos de uva. No capítulo sobre “A Mitologia Clássica”, um dos mais alentados, a autora se apoia principalmente nas abundantes representações de Dionísio, o deus dos vinhos dos gregos, e seu correspondente romano, Baco. Montserrat selecionou inúmeras cenas presentes em vasos e taças, além de fazer referência a obras monumentais, como o deus do vinho representado num dos frisos do Parthenon. A autora também destaca as obras de inspiração bíblica e do vinho presente na iconografia cristã, cenas celebradas em painéis, esculturas, tapeçarias e nos vitrais das imponentes catedrais. O Vinho na Arte encerra-se com obras dos séculos XIX e XX, também ilustrando momentos da vida cotidiana, seja a garrafa em “Os Jogadores de Carta”, de Paul Cézanne, ou a taça de champagne na mão do conquistador, em “Par no Père Lathuille”, de Edouard Manet. A vibrante “Vinha Encarnada", de Van Gogh, não poderia ser esquecida, assim como a plácida cena do clássico “O almoço na relva”, de Claude Monet. VINHA DE VAN GOGH - A única tela de Van Gogh vendida em vida chama-se "A Vinha Encarnada" ou "A Vinha Vermelha", pintada em Arles, em novembro de 1888. Foi comprada pela pintora belga Anne Boch, patronesse de artistas. Como escreve o crítico de vinhos e editor Marcelo Copello em seu blog Mar de Vinho, a tela sela a relação de Van Gogh com o vinho. O pintor descreve sua obra como “um vinhedo vermelho, todo vermelho como vinho tinto. Ao fundo, no céu com sol, o vermelho se transforma em amarelo e depois em verde . Na terra, depois da chuva, os tons são de violeta com reflexos dourados do sol”. Segundo Copello, "A vinha vermelha" indica uma colheita retardada (e chuvosa) e sugere que as uvas eram Grenache e/ou Carignan, castas tardias típicas da região. No mesmo ano, dois meses antes, ele tinha pintado "A Vinha Verde". DC de 15/8/2014

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