quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Barbaresco, ele mesmo.

O Barbaresco, vinho 100% Nebbiolo, de vinhedos que crescem nas colinas da Langhe, perto da Alba-das-trufas-brancas, a sudeste de Turim –, não é um pequeno Barolo ou Barolo Jr., apesar de toda história e vizinhança. É essa a defesa sempre necessária que fizeram recentemente alguns sites internacionais, incluindo o didático Snooth . O perfumado e mais leve Barbaresco se ombreia com o Barolo e são ambos grandes clássicos italianos e de todo mundo, enquanto o outro "B" do Piemonte, o Barbera, também galga degraus em qualidade. São os vinhos ideais para acompanhar a gastronomia local, como o bolito, os risotti, os gnocchi alla bava, as pastas enevadas de trufas e o stracotto – aquele cozido que tem um quê de paraíso. Quando em 1787 Thomas Jefferson visitou o Piemonte, essa parte da Itália abraçada à França, ele ainda encontrou um vinho da Nebbiolo doce como o Madeira, adstringente no palato como um Bordeaux e pungente como o Champagne. Era época em que Jefferson anotava tudo o que poderia ser útil para os independentes Estados Unidos - até o modo de preparar um mascarpone não lhe escapava, como conta o enólogo Gerad Asher em Vineyards Tales - Reflection on Wine (Chronicle Books/1996). Décadas mais tarde, a enciclopédia britânica ainda tratava o vinho piemontês como brusco. As mudanças desse vinho, que até então não tinha identidade formada, aconteceram em 1840, quando o enólogo francês Louis Oudart, a convite da mulher de um produtor piemontês, converteu o "doce" Nebbiolo da região de Barbaresco em um vinho seco, envelhecido em então inéditas barricas de carvalho, como os grandes vinhos franceses. Foi um sucesso. Asher conta, num capítulo inteiro dedicado ao Barbaresco, que até Cavour, o primeiro-ministro piemontês à época do rei Vittorio Emanuele II, ativista central do Risorgimento italiano, gostou da ideia e aplicou-a rapidamente a seus vinhedos. O fato é que as práticas de Oudart foram mais rapidamente adotadas pelos vinicultores de Barolo do que pelos de Barbaresco. E o resultado foi que o novo estilo Nebbiolo entrou primeiramente no mercado através das garrafas de Barolo. É verdade também que a área plantada pesou nessa conquista. Hoje, apesar de novos vinhedos em Barbaresco, a área cultivada está perto de 680 hectares, menos que a metade da área de seu vizinho famoso plantada com a Nebbiolo. O trabalho do francês Oudart foi consolidado em 1880 por Domizio Cavazza, um professor respeitado na região e fundador de respeitadas escolas para vinicultores em Alba. Em 1894 ele fundou a cooperativa Produttori del Barbaresco (www.produttoridelbarbaresco.com.). "Pela primeira vez então o Barbaresco passou a ter uma identidade publicamente proclamada", escreve Matt Kramer, no seu Making Sense of Italian Wine (Running Press/2006). Esses produtores cooperados, descontado o período em que foram forçados a parar pelas autoridades fascistas, continuam em plena atividade e trabalham em metade dos vinhedos de Barbaresco (mas não na apelação toda, que inclui Treiso e Neive). São 52 membros produzindo 500 mil garrafas por ano. O renome internacional do Barbaresco, entretanto, foi conquistado, a partir dos anos 1970, graças ao trabalho incansável de Angelo Gaja, que viajou o mundo garantindo mercados e preços. Vários de seus rótulos estão disponíveis nas grandes importadoras do País, incluindo os Langhe Rosso, que são assim identificados porque levam um toque da Barbera local. Na lista de notáveis produtores de Matt Kramer, entram Gaja, os Produttori del Barbaresco, mas também Piero Busso, Ca'Romé di Romano Marengo, Castello di Neive, Ceretto, Giuseppe Cortese, Bruno Giacosa, Ugo Lequio, Marchesi di Grésy, Moccagatta, Paitin di Pasquero-Elia, Cantina del Pino Pio Cesare, Prunotto, Roagna, Sottimano, La Spinetta e Vietti. DC 1/8/2013

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